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O DESPERTAR DE HAAMIAH - 31.813 e7

  Depois que passa, fácil se parece. Dores e desesperan?a se tornam lembran?as na alma que sabe se curar.

  1

  Ladar bufou, assustando os três dem?nios que se mantinham pacientemente ao seu lado, que apressados e apavorados se foram para além da montanha.

  Desde que matara Lázarus, milênios atrás no tempo, tudo parecia ter se esfacelado, e o ódio e a amargura que tinha pareciam um pouco... for a de contexto. A importancia que sempre dera ao seu papel de vítima parecia, agora, quando se fixava nele, meio descabido.

  Toda sua memória estava ali, intacta, mesmo que sempre se mostrasse borrada, confusa, quando tentava se fixar nela.

  A partir de seu último encontro com Lázarus preferia ficar quieto, cada vez mais em si mesmo, pensando, mascando, talvez seguindo o exemplo de Mercator, desejoso de entender seu real papel na experiência do UM. Se olhasse para trás, na linha do tempo, via que estava mudando, que suas memórias estavam se organizando.

  Deu de ombros, aceitando o que viesse.

  Seus antigos dominados e liderados, lentamente, e de forma quase imperceptível, foi deixando de lado, expulsando, sobrando nesses dias apenas esses três, que insistiam em permanecer. Talvez lhes desse a chance de ficarem mais próximos, decidiu avaliar mais tarde.

  Mas, sem perceber ficou examinando-os. Atentou com cuidado em seus rostos, em seus modos, em seus olhos. O medo que viu neles lhe doeu.

  - V?o, desapare?am da minha frente, e n?o se aproximem mais – avisou, um súbito ódio subindo e substituindo a pouca empatia que sintonizara antes.

  Eles devem ter percebido. Após se entreolharem, aos gritos rapidamente se foram, sumindo dentro de rinc?es sombrios na mata.

  Lada bufou e, lentamente, conseguiu voltar a ter o simulacro de paz que conseguira agora há pouco, se perguntando o que estava acontecendo.

  Tudo se intensificou há coisa de noventa dias atrás quando percebera o pulso de energia, que reconheceu de imediato e sem qualquer dúvida, apesar do longo tempo decorrido. Seu ego doeu, percebendo o quanto for a enganado, mas acabou sorrindo, satisfeito, até mesmo feliz. Lázarus n?o estava morto, como n?o descera definitivamente na experiência, onde teria se perdido, como for a levado a acreditar por todo esse longo tempo, tal como ele se ocultara, deixando Lázarus acreditar que ele havia morrido irremediavelmente, lembrou com um certo prazer. Agora entendia que for a pago com a mesma moeda, percebeu com um sorriso.

  Ent?o, lá estava Lázarus, se fingindo de esquecido, criando corpos para si, corpos de pessoas e de homens, sempre se acercando de uma mulher, que também sabia com certeza quem era. Desde ent?o passou a segui-los com discri??o, e viu as linhas de tempo dos dois, e riu quando viu o trabalh?o que se davam, sempre se matando no caminho, para novamente se reencontrarem no futuro. Ent?o a esperan?a do anjo ferido foi lentamente entrando em sua alma, emocionando-o suavemente.

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  E foi num dia desses que se viu sob aten??o de Emanoel e de seus anjos, que apenas o observavam, sem interferirem com ele, o que agradeceu e lhe deu a medida de sua recupera??o.

  Após pensar por um breve tempo, resolveu que chegara a hora de dar um passo definitivo.

  Na larga campina onde o vento fazia o alto capim ondular como se fossem ondas no mar, sentou-se sobre um cupinzeiro deixando o sol aquecer seu corpo. Prestou aten??o apenas no sol e no vento, e nas can??es que passavam à sua volta. Relaxou e deixou sua mente crescer, sua aten??o se expandir, sua mente se esquecer de avaliar e de ter prazer em se ver como vítima ou torturador.

  Devagar respirou fundo e curto, trazendo energia com sua inspira??o para dentro de seu corpo, tocando cada fibra, cada célula. Em paz e esquecido deixou que ela se espalhasse por todo seu corpo e sua alma, que foi iluminando. Sentiu uma dor e uma avers?o se agigantarem, e um grito horrível de sua alma, horrorizada com a escurid?o e com o que era nela. Mas ignorou tudo isso e toda a resistência que se espalhava por todo seu ser – n?o era fácil se desintoxicar da escurid?o, da mágoa e da dor..., do medo.

  For?ou ainda mais a luz.

  Com convic??o se lembrou de ser Haamiah e de como se sentia quando era inocente no paraíso. Ent?o, quando a luz explodiu ante seu ser, apenas se deixou adormecer, se permitindo se curar, e se lembrar de que o que vivera por tanto tempo na escurid?o for a apenas uma ... experiência ...

  II

  - Se observar, foi até fácil sair da escurid?o – sorriu baixinho.

  - N?o se engane, Haamiah. Foram milênios de tormento pelo qual passou, sua alma buscando entender o que lhe acontecerá, buscando vencer os desafios que se impusera. Sua queda foi brutal, e em alguns momentos receávamos que n?o iria conseguir. Agora, parece que foi fácil, mas nós o vimos acompanhando, e posso dizer que sua luta foi para poucos – sorriu. – Gr?o sobre gr?o você construiu a montanha de onde se pode ver. Temos muito orgulho de você...

  - Vejo os atos inocentes de Haamiah, como vejo os atos inocentes de Negrumo e de Ladar – falou. – Mas, o que sou agora, Emanoel? Sinto um silêncio dentro de mim, um silêncio frio e impessoal. Toda a tempestade que vejo, n?o sinto; toda a dor que resvala em mim, n?o me toca. O que me tornei, Emanoel?

  - Sabe, conhe?o um dem?nio a quem poderá chegar a fazer essas perguntas. Você, meu amigo anjo, se tornou assim antes dele. E, ainda, tem Lázarus, que possui essa calmaria na alma, que só n?o o entorpece porque tem Ariel...

  - E eu? Quem eu tenho, Emanoel?

  - Ah, você... Há certas coisas que ainda vai fazer, pelo valor que é. Um convite já te foi enviado, e cabe a você aceitar ou n?o. Independente de qual for a sua escolha, é certo que você agora vai cuidar de velhos amigos, confortar suas almas e rir com eles. Depois, lá na frente, você vai descer na experiência, e lá vai encontrar sua ancora. Tenha paciência! N?o tenha pressa, aprecie o caminho. Alguém muito especial está à sua frente, porque sempre esteve ao seu lado.

  - Uma pessoa especial? – Cismou.

  - Talvez uma demiana, ou dêmona, ou ambas – Emanoel sorriu.

  - Enigmas... Tudo bem, vou aceitar, porque parece ser boa coisa. E quanto a ser dêmona ou demiana, já vi maldade demais em ambos, como já vi bondade demais em ambos também. Obrigado. Vou esperar. E quanto a Lázaro?

  - Ah, esse... Você viu... Ele e Ariel continuam brincando de se matarem... Logo eles v?o se cansar disso – riu, batendo as m?os nas coxas. – Pronto para ser um AnjoAoLado, ao menos por algum tempo? Estávamos esperando por você.

  - Sem dúvida que sim, meu irm?o.

  - Ent?o, como AnjoAoLado, você tem dois irm?os para cuidar. Apesar de me divertir em vigiar os dois, deixo para você a incumbência. Mas vou avisando que, quando eu quiser me divertir, eu vou voltar – riu.

  - Ariel e Lázaro?

  - Quem mais?

  - Acha apropriado? Se me perceberem os animos podem ficar exaltados – sorriu preocupado.

  - Sementes, meu amigo, sementes. N?o acham que eles precisam ir se acostumando com sua energia?

  Por um momento Haamiah ficou em silêncio pensando, e viu que estava tudo certo ali.

  - Tudo bem, tudo bem... Tenho essa dívida – sorriu.

  - Isso, meu amigo. Dívida, n?o carma...

  - Ainda bem... – sorriu. - E será bem-vindo, quando quiser aparecer. Aduene, Emanoel.

  - Adanene, Haamiah. E seja bem-vindo de volta – cumprimentou, após um apertado abra?o.

  Haamiah suspirou, colocando sua aten??o discreta e carinhosa sobre um anjo e uma vigilante.

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