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Capítulo 10 – Sombras de um rumor

  O port?o da pris?o se abriu com um rangido metálico, o som ecoando pela área deserta ao redor. A antiga ruína onde a pris?o estava instalada, uma igreja quebrada que se erguia em meio a um terreno abandonado, estava envolta em um silêncio pesado. A edifica??o, com suas pedras escuras e desgastadas pelo tempo, dava a impress?o de ser uma ferida ainda aberta. O ar estava impregnado com o cheiro da umidade da cripta subterranea, mas logo o exterior trouxe consigo o frescor do ar aberto.

  Garlei montou seu cavalo sem pressa, os olhos voltados para a cidade que agora ficava para trás, mas n?o sem um toque de vigilancia. Ele estendeu a m?o para Nwyn, que ainda estava meio desorientado pela recente liberta??o. Nwyn hesitou, mas aceitou a ajuda, subindo com dificuldade na montaria. Mesmo que os machucados se esvaiam rapidamente, o peso da fadiga estava ainda em seu corpo, mas a estrada à frente exigia aten??o.

  Antes de seguir, Garlei se virou para um dos guardas que estava ali esperando, um homem de rosto marcado pelo tempo, com um olhar que parecia penetrar a espessura da névoa da manh?.

  — Encontre Leny — Garlei disse, sua voz firme. — Pergunte a qualquer um na cidade. Se ele estiver por aí, eu preciso saber onde.

  — Como ele é?

  Nwyn piscou, tentando afastar o peso do sono.

  — Uh… velho. Cabelos meio grisalhos. Tem uma cicatriz aqui — ele tocou a lateral da própria testa. — Sempre tá com um casaco de couro, meio... ferrado.

  Ele franziu o cenho, tentando lembrar de mais alguma coisa.

  — Ah... e está com uma carro?a, um cavalo puxando.

  Garlei assentiu e olhou para o guarda.

  — Procure por um velho com essa descri??o, provavelmente na área comercial, perto de alguma boticaria. Se encontrar, leve-o para minha casa. Se tiver problema, mande alguém me avisar.

  O guarda assentiu e, sem mais palavras, partiu para a cidade.

  O cavalo de Garlei avan?ou lentamente pelo port?o e pela estrada de terra que se estendia à frente. Os cascos dos cavalos batendo contra o solo, criando um som que parecia preenchê-lo por completo. O calor da manh? come?ava a aumentar, e as ruas da cidade lentamente se afastavam, dando lugar a uma paisagem mais aberta e desolada.

  à medida que saíam do burburinho da Central, os campos come?aram a surgir, a vegeta??o mais espa?ada, e as casas que antes estavam grudadas umas nas outras come?aram a se dispersar, como se o campo tivesse engolido a cidade. As fazendas eram simples, com galp?es de madeira e cercas rústicas. árvores altas, com galhos tortos e ondulados, estendiam-se pelo horizonte, e as montanhas ao longe apareciam como uma linha tênue, quase apagada pela névoa que ainda encobria o céu.

  Nwyn n?o sabia muito sobre o caminho. O campo lhe era estranho, e a cidade ainda estava longe de se dissipar completamente em sua mente. Ele estava ali, à deriva, como se o mundo tivesse se tornado mais confuso a cada passo. Por um momento, ele olhou para Garlei, que, em silêncio, cavalgava com o corpo rígido, como se estivesse a caminho de algo urgente.

  O silêncio era imenso, mas, de alguma forma, Nwyn preferia isso. Ele n?o tinha mais for?as para falar, n?o sabia o que dizer, ent?o apenas observava.

  Depois de algum tempo, a mans?o dos Forten apareceu à vista, erguendo-se no topo de uma colina. N?o era uma constru??o de mármore ou algo excessivamente ornamentado, mas tinha uma for?a que se impunha no cenário, uma resistência natural. Era feita de pedra sólida, com uma fachada que parecia ser a própria defini??o de um domínio no campo. A casa se destacava pela simplicidade de sua imponência, sem excessos, mas com detalhes que mostravam a riqueza de quem a possuía.

  O port?o de ferro da mans?o se abriu assim que se aproximaram. Alguns servos estavam ao redor, trabalhando nas tarefas do dia, mas assim que Garlei e Nwyn entraram, uma sensa??o de tranquilidade envolveu tudo, como se o mundo exterior n?o fosse mais importante.

  Ambos desceram do cavalo e Garlei fez um gesto com a m?o para que Nwyn o seguisse. Enquanto caminhavam, Nwyn percebeu que a casa n?o era apenas um refúgio, mas uma fortaleza silenciosa no meio da vastid?o do campo.

  Garlei deu ordens rápidas para os servos, indicando que Nwyn seria levado para os aposentos. O garoto n?o protestou. Ele só queria deixar o peso do dia para trás, se entregar à imensid?o do lugar e, por um momento, n?o pensar mais.

  Nwyn seguiu Garlei para dentro da casa, sentindo o peso do cansa?o se acumular em seus músculos conforme cruzavam o grande sal?o de entrada. O interior da mans?o Forten era espa?oso, mas n?o excessivamente luxuoso. Havia um estilo rústico e funcional, com móveis de madeira escura e tape?arias antigas pendendo das paredes de pedra. O ar ali dentro era fresco e carregava o leve aroma de lenha queimada, misturado com algo sutilmente herbal.

  Garlei n?o falou muito enquanto o guiava por corredores longos e silenciosos, apenas fez um gesto para que ele continuasse seguindo. Depois de subirem uma pequena escada de madeira, ele parou diante de uma porta e a empurrou com o ombro.

  — Aqui. Se lave.

  Era um banheiro simples, mas espa?oso, com um grande barril cheio de água morna que exalava vapor, já preparado para o banho. Uma pequena mesa com toalhas e um sab?o de cheiro amadeirado completava o ambiente.

  Garlei se virou para sair, mas antes de fechar a porta, olhou para Nwyn por um momento.

  — Volto já com umas roupas para você.

  E ent?o, ele se foi.

  Nwyn se despiu devagar, sentindo os músculos doloridos enquanto tirava as roupas sujas e amarrotadas. Quando afundou na água quente, um suspiro involuntário escapou de seus lábios. O calor envolveu sua pele, relaxando o corpo e afrouxando a tens?o acumulada dos últimos dias. Ele passou as m?os molhadas pelo rosto, sentindo a sujeira e o suor se dissolvendo na água.

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  Garlei voltou algum tempo depois, deixando um conjunto de roupas limpas sobre um banco próximo.

  — Vista isso quando terminar.

  Sua voz ecoou pelo vapor, e ent?o ele se retirou novamente.

  Mas Nwyn n?o saiu logo. Ficou ali, os olhos fechados, aproveitando a sensa??o de calor em seu corpo. Era a primeira vez em muito tempo que sentia algo parecido com conforto. O silêncio do c?modo, a leve oscila??o da água ao seu redor… por um breve momento, ele n?o queria sair dali.

  Mas o tempo passou, e, por fim, ele se levantou. Vestiu as roupas que Garlei deixara – um tecido simples, mas limpo e confortável – e saiu, secando os cabelos com uma toalha.

  A mans?o estava silenciosa, mas, ao caminhar pelos corredores, captou o som de vozes.

  Ele parou.

  Era Garlei.

  E ele estava conversando com alguém.

  A curiosidade falou mais alto que o bom senso, e Nwyn se esgueirou pelo corredor até encontrar a origem das vozes. Ele se encostou na parede ao lado da porta entreaberta e prendeu a respira??o.

  — Estou sem cabe?a para rumores agora — disse Garlei, a voz carregada de exaust?o.

  — Mas isso é sério — respondeu uma mulher mais velha. Seu tom era firme, mas sem agressividade, como alguém acostumado a lidar com situa??es urgentes. — A movimenta??o na Central aumentou nos últimos dias. Se houver mesmo movimenta??o militar de Linteal, eles já devem estar aqui dentro.

  Linteal.

  A palavra reverberou na mente de Nwyn.

  Garlei soltou um suspiro pesado.

  — Podemos fechar os port?es e controlar melhor a entrada e saída. Apenas soldados da Central e aqueles que realmente precisarem sair. Manteremos a entrada limpa.

  — Isso pode ajudar, mas n?o resolve tudo — a mulher argumentou. — Podemos mandar algumas pessoas investigarem. Perguntar nas guildas se ouviram algo.

  Garlei demorou um momento antes de responder, mas ent?o concordou:

  — Certo. Fa?a isso.

  Houve um breve silêncio antes dele acrescentar:

  — Olhos da Meia-Noite, eles pediram por uma audiência comigo e com você.

  Nwyn franziu a testa. N?o conhecia o nome, mas entendia que era a guilda daquele interrogador.

  Passos surgiram para o lado de fora, interrompendo os pensamentos de Nwyn enquanto ele se encostava na parede, tentando absorver tudo o que ouvira. Ele se encolheu ainda mais, tentando se esconder na penumbra do corredor. Quando a figura apareceu, ele ficou um pouco surpreso.

  Era uma mulher, de cabelos loiros que passavam dos ombros e um rosto que, embora maduro, ainda exalava uma beleza serena. Seus olhos tinham algo de familiar — um brilho intenso, mas também uma suavidade que ele n?o esperava. Ela parecia ter por volta de 50 anos, mas sua postura e gra?a faziam com que parecesse muito mais jovem.

  Ela olhou diretamente para onde Nwyn estava escondido, como se já o soubesse ali, e, em vez de demonstrar qualquer sinal de irrita??o, sorriu gentilmente.

  — Ah, ent?o você é o Nwyn, n?o é? — Sua voz tinha uma melodia tranquila, quase maternal. — Um prazer finalmente conhecê-lo.

  Nwyn ficou sem palavras por um momento, surpreso com a rea??o da mulher, e se sentiu um pouco envergonhado por tê-la espionado. No entanto, ela n?o parecia brava, pelo contrário, estava visivelmente contente. Algo nela o fazia se sentir à vontade, sem a tens?o que ele esperava.

  — Eu sou Alya — ela continuou, dando-lhe um olhar que parecia estudar cada detalhe dele, como se o conhecesse de algum lugar. — Tia de Garlei e regente da Central.

  Ela se despediu com um sorriso caloroso e uma leve inclina??o de cabe?a antes de continuar seu caminho, deixando Nwyn sozinho. Garlei apareceu em seguida, seus passos firmes ecoando pelo corredor, mas quando ele avistou Nwyn, seu olhar se deteve por um breve momento. Havia uma leve surpresa nos olhos dele, como se tivesse notado que o garoto estava mais atento do que deveria. No entanto, ele n?o comentou nada.

  — Você está mesmo com fome, n?o é? — Garlei perguntou, uma leve ironia na voz, antes de acrescentar com um tom mais sério: — Vamos comer algo. O almo?o já deve estar pronto.

  Nwyn apenas assentiu, sentindo seu est?mago reclamar de fome. N?o demorou até que eles chegassem à sala de jantar. O ambiente era simples, mas confortável, com uma mesa de madeira escura coberta com pratos fartos. O aroma de carne assada e p?o recém-feito pairava no ar, e Nwyn n?o perdeu tempo em se sentar, pegando um peda?o de carne com pressa. Estava faminto, e a comida ali parecia ser a única coisa que importava naquele momento.

  Garlei se sentou à sua frente e o observou em silêncio por alguns momentos, como se estivesse estudando o garoto. Ent?o, com um suspiro, ele finalmente falou.

  — Desculpe pelo que você passou, Nwyn.

  Nwyn parou por um momento, pegando outro peda?o de p?o antes de olhar para Garlei. Seus olhos brilharam com algo entre cansa?o e resigna??o.

  — N?o é sua culpa. — respondeu, a voz mais baixa, mas firme. — Mas estou bem agora.

  Garlei deu um suspiro, visivelmente aliviado pela resposta de Nwyn. Ele pegou um peda?o de carne e come?ou a cortar em peda?os menores, pensativo.

  Nwyn n?o conseguiu mais segurar a curiosidade. Com a comida come?ando a diminuir no prato, ele olhou para Garlei e, depois de hesitar, perguntou:

  — Sobre o que sua tia estava falando com você? Aquela história de Linteal... A movimenta??o na cidade.

  Garlei levantou os olhos, um pouco surpreso, mas sem parecer incomodado. Ele pousou os talheres e deu um pequeno sorriso, como se já esperasse que Nwyn tivesse ouvido tudo.

  — Ah, você estava ouvindo... — Garlei respondeu, com um tom de leve ironia. — Ela só está preocupada com o que está acontecendo. Está ouvindo rumores por aí... sobre Linteal.

  Nwyn franziu a testa, tentando entender melhor.

  — Rumores?

  Garlei deu de ombros, uma express?o vaga no rosto, como se estivesse ainda tentando avaliar a situa??o. Ele pegou mais um peda?o de carne, mastigando lentamente.

  — é... Como eu disse, ainda s?o rumores. A cidade está um pouco agitada. Mas nada muito concreto até agora. — Ele olhou para Nwyn, vendo a express?o curiosa do amigo, e suspirou. — Parece que Linteal pode estar se movimentando, mas, por enquanto, é só isso. Nada de realmente grave, entende? Mas minha tia... Alya... Ela tem o olhar afiado, vê além do que muitos percebem. E, pelo visto, ela acha que as coisas podem piorar.

  Nwyn se sentiu um pouco desconfortável com a leve incerteza que pairava no ar. N?o estava bem claro para ele se aquilo era algo real ou apenas especula??o. Mas, pela maneira como Garlei falava, ele sabia que algo estava acontecendo, mesmo que fosse difícil de entender.

  — Ent?o, aquela é a sua tia?

  Garlei soltou um riso baixo, mas n?o foi de deboche.

  — Sim... Alya é a regente da Central. Ela cuida de tudo aqui, além de ser minha tia. Ent?o, ela tem acesso a muita informa??o, e se está preocupada, é por algum motivo. — Garlei olhou para Nwyn com uma express?o mais séria agora. — Por isso, tem que tomar muito cuidado com o que vai fazer com tudo isso.

  Nwyn processava as palavras, tentando encaixar as pe?as. Ele sempre soube que Garlei era o herdeiro de toda a Central e que havia perdido seus pais muito cedo, sua tia era a regente atual, até que o garoto tivesse idade para tomar seu lugar.

  — E você? O que acha disso tudo? — Nwyn perguntou, os olhos fixos no amigo.

  Garlei hesitou por um momento, dando um longo suspiro antes de falar.

  — Eu ainda n?o sei. S?o só boatos por enquanto. Ninguém aqui realmente sabe o que está acontecendo, mas se Linteal realmente estiver se movendo... bem, vai ser um problema para todos nós. N?o só para a Central.

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