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O Eco de um Nome

  As aulas do dia já haviam acabado, mas minha mente ainda parecia presa no turbilh?o de pensamentos que me acompanhava desde o momento em que li o e-mail pela primeira vez.

  Enquanto sentado na minha cama, encarava novamente a mensagem aberta no celular, como se precisasse de mais uma confirma??o de que aquilo era real.

  "Parabéns! Sua história foi selecionada como uma das finalistas do concurso. O evento ocorrerá no auditório central da Editora Kousei, às 15h. Contamos com sua presen?a."

  Cada palavra parecia dan?ar na tela, trazendo uma mistura de nervosismo e expectativa. Eu tinha lido e relido o e-mail tantas vezes que já sabia o conteúdo de cor, mas ainda assim era difícil acreditar.

  Era isso. A etapa final. O envelope com a história entregue, as horas incontáveis de escrita e revis?o… tudo culminava nesse momento. Respirei fundo, tentando conter a agita??o.

  Me virei na cama, olhando para o relógio. Faltava pouco para o evento, e a ideia de enfrentar um auditório cheio, além de outros finalistas — provavelmente muito mais experientes —, fazia meu est?mago revirar.

  — Shin, você ainda está aí em cima? — A voz de minha m?e subiu as escadas, carregada de um tom de leve reprova??o. — Já está quase na hora!

  Suspirei, me levantando e dando uma última olhada no espelho. Vesti algo simples, mas arrumado o suficiente para a ocasi?o. Uma parte de mim queria parecer confiante, mesmo que por dentro a ansiedade ainda estivesse ganhando a batalha.

  Peguei o convite impresso que estava na escrivaninha, guardando-o cuidadosamente na mochila. Quando desci as escadas, o cheiro reconfortante de café fresco da tarde e torradas me envolveu. A cozinha, como sempre, parecia mais viva do que qualquer outro lugar da casa.

  — Você está nervoso, mano? — perguntou Hana, sentada à mesa com uma torrada nas m?os. Seu olhar curioso me analisava como se tentasse adivinhar meus pensamentos.

  — Só um pouquinho — Dei de ombros, tentando parecer despreocupado, mas minha express?o provavelmente dizia o contrário.

  Kaori estava ao lado dela, inclinada sobre o balc?o enquanto mexia no celular. Ao ouvir minha resposta, ela ergueu os olhos com um sorriso provocador.

  — Só um pouco? Duvido. Você tá parecendo alguém indo pra uma entrevista de emprego!

  — é quase isso, Kaori — Peguei uma torrada da mesa e apontei para ela, sorrindo de leve. — Só n?o esquece que você prometeu estar lá.

  Ela revirou os olhos de maneira exagerada, mas o sorriso animado n?o desapareceu.

  — Claro que vou. O que seria de você sem a sua torcida?

  — Provavelmente mais calmo — brinquei, arrancando um risinho de Hana.

  Minha m?e surgiu ent?o, trazendo uma xícara de café até a mesa.

  — Boa sorte hoje, Shin. — Seu tom era suave, mas havia um brilho no olhar que dizia mais do que as palavras.

  — Obrigado, m?e.

  Dei uma última mordida na torrada e joguei a mochila nas costas. Enquanto ajustava as al?as, Kaori cruzou os bra?os, com aquele típico sorriso cheio de energia que sempre parecia ter um efeito calmante, mesmo nos momentos mais tensos.

  — Lembra, Shin: mesmo que n?o arrase — o que, sinceramente, eu duvido — a gente vai gritar seu nome como se você tivesse levado o troféu pra casa! — Ela piscou, a provoca??o bem-humorada suavizando a tens?o que eu sentia.

  Deixei escapar uma risada, mesmo que nervosa.

  — Valeu. Acho que vou precisar disso.

  Kaori também pegou a bolsa dela, mas parou no corredor da porta para me lan?ar um último olhar encorajador.

  — Encontro você lá, tá? Vou com o pessoal direto. E, mais uma vez… boa sorte.

  Assenti, sentindo o peso das palavras dela e a confian?a que traziam.

  — Obrigado, Kaori.

  Ela saiu primeiro, deixando a porta bater suavemente atrás de si, e fiquei por alguns segundos olhando para o vazio, respirando fundo antes de seguir meu próprio caminho.

  Era hora de enfrentar o dia.

  Chegar ao prédio da Editora Kousei foi quase como entrar em um mundo diferente. O edifício, alto e imponente, erguia-se como um monumento ao talento e à ambi??o. A fachada de vidro refletia o céu azul, criando um contraste entre a grandiosidade e a simplicidade do dia ensolarado.

  Ao entrar, o impacto foi imediato. O sagu?o estava repleto de energia: escritores segurando pastas ou conversando em grupos, editores bem-vestidos com olhares avaliadores, e curiosos que provavelmente eram familiares ou amigos dos finalistas. Cada canto parecia vibrar com a expectativa.

  Meus olhos vagaram até a se??o reservada ao público, onde vi rostos conhecidos. Kaori, que já tinha chegado, acenou vigorosamente assim que me avistou, o sorriso dela brilhando até do outro lado do sal?o. Seiji, ao lado dela, come?ou a fazer gestos exagerados, como se estivesse me chamando para uma briga de boxe.

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  — Vai com tudo, Shin! — ele gritou, alto o suficiente para que metade do sagu?o virasse para ele.

  Meu rosto esquentou, mas n?o pude evitar um pequeno sorriso. Aquilo era t?o típico dele que, por um breve momento, minha tens?o diminuiu.

  Mais à frente, encontrei a área reservada aos finalistas. Cada cadeira tinha um crachá com o nome do participante, e o meu estava ali, me esperando. Peguei o crachá com cuidado, passando os dedos pelo plástico frio, e me sentei lentamente.

  Olhei ao redor. Alguns finalistas estavam com os olhos fechados, talvez meditando, enquanto outros conversavam entre si. Outros, como eu, seguravam o crachá como se fosse a última ancora de sanidade naquele ambiente carregado de expectativas.

  Respirei fundo novamente, tentando ignorar o som do meu cora??o batendo rápido. O crachá no meu colo parecia mais pesado do que realmente era, um lembrete constante de onde eu estava e do que estava em jogo.

  Eu estava ali, entre os melhores. E só restava esperar.

  Ent?o, o mestre de cerim?nias subiu ao palco. Ele era um homem de cabelos grisalhos, com uma postura ereta e uma presen?a que exalava autoridade. O microfone capturou sua voz clara e ressonante, enchendo o auditório.

  — Boa tarde a todos. Antes de mais nada, quero parabenizar cada um dos finalistas. Apenas chegar aqui já é uma conquista que poucos alcan?am. Este ano, recebemos um número recorde de inscri??es, e as histórias foram avaliadas com extremo rigor pelos nossos jurados...

  Sua pausa foi breve, mas o suficiente para que o ar na sala parecesse ainda mais denso.

  — Quero expressar meus sinceros agradecimentos aos jurados, que dedicaram seu tempo e esfor?o para analisar cada detalhe das obras. E agora, sem mais delongas, vamos aos resultados.

  O auditório ficou em silêncio. O som de papéis sendo virados e passos leves no palco eram os únicos ecos no ambiente. Cada segundo parecia se arrastar enquanto ele lia o papel em suas m?os.

  — Em décimo sexto lugar...

  E assim o processo avan?ou até restarem apenas cinco finalistas. Meu nome ainda n?o havia sido pronunciado, e a tens?o que eu sentia era quase insuportável.

  — Em quinto lugar… Kiyomi Nishikawa!

  Uma jovem se levantou no meio da plateia, seus olhos brilhando de emo??o enquanto aplaudíamos. Ela subiu ao palco e recebeu o certificado, curvando-se respeitosamente antes de descer.

  — Em quarto lugar… Akihiko Mori!

  O próximo, um homem mais velho, de aparência cansada, se levantou com um sorriso modesto. Aplaudi, mas meu cora??o estava batendo t?o forte que eu mal conseguia ouvir os sons ao meu redor.

  — E agora vamos para os três grandes finalistas... — ele fez uma breve pausa, antes de fazer o anúncio — em terceiro lugar… Haruto Takeda!

  Meus olhos acompanharam um garoto que subia ao palco, talvez por volta da minha idade. Ele tinha uma express?o rígida, quase amarga. Apesar de aplaudido calorosamente, seu rosto mostrava que ele estava claramente frustrado. Seu sorriso foi for?ado, e ele desceu do palco segurando o certificado com dedos tensos.

  Senti uma pontada no peito ao observar Haruto descer do palco com passos tensos, o certificado em m?os. Mesmo no terceiro lugar, ele parecia derrotado.

  Por um momento, me vi naquele lugar. E se fosse eu? Será que eu ficaria t?o deslocado?

  Foi quando um pensamento me atingiu como um raio: meu nome ainda n?o havia sido chamado.

  Ainda faltavam dois lugares. Dois finalistas. Eu e Ryuuji.

  Minha respira??o ficou irregular, como se o ar ao meu redor tivesse ficado mais pesado. Meus dedos apertaram o crachá pendurado no pesco?o, enquanto um nervosismo avassalador come?ava a tomar conta de mim.

  Era como se o silêncio no auditório tivesse se intensificado, mesmo com os murmúrios baixos da plateia ao fundo. Cada palavra do mestre de cerim?nias parecia se arrastar, como se ele estivesse prolongando deliberadamente o anúncio.

  Meu olhar vagou instintivamente para Ryuuji, que estava sentado a algumas fileiras de distancia. Ele estava relaxado, com aquele sorriso de quem já tinha certeza de que sairia vitorioso. Seu corpo inclinado na cadeira, as m?os apoiadas casualmente nos bra?os, mostravam uma confian?a que parecia inabalável.

  Meu cora??o parecia estar martelando no peito enquanto eu tentava me convencer de que, seja qual fosse o resultado, eu deveria ficar orgulhoso por ter chegado t?o longe, mas...

  E ent?o, o mestre de cerim?nias ajeitou os óculos e anunciou com um tom mais formal:

  — E agora, o segundo lugar vai para… Shin Yamamoto!

  Meu cora??o parou por um instante.

  Segundo lugar. Aquelas palavras ecoaram na minha mente, soando mais como uma senten?a do que um reconhecimento.

  Por um momento, tudo pareceu desacelerar. O som dos aplausos ao meu redor soava distante, abafado, como se eu estivesse preso em um mundo separado. Meu nome havia sido chamado, mas minha mente ainda lutava para processar o que aquilo significava.

  — Shin... — Kaori chamou, sua voz hesitante, como se estivesse tentando encontrar a coisa certa a dizer.

  Minhas pernas pareciam feitas de chumbo quando me levantei. Eu sabia que precisava ir ao palco, mas cada movimento parecia um esfor?o monumental.

  Antes de me virar completamente, meus olhos captaram as express?es dos meus amigos. Kaori tinha os olhos arregalados, como se estivesse tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Rintarou, sempre t?o calmo e ponderado, parecia surpreso, a testa levemente franzida. Seiji gesticulava algo — talvez um encorajamento, talvez uma brincadeira para aliviar a tens?o — mas eu n?o conseguia captar.

  Seus olhares n?o pareciam carregar decep??o… mas eu n?o conseguia acreditar nisso. Eles deviam estar decepcionados. Depois de tudo, eu ainda fracassei.

  A frustra??o come?ou a se juntar no fundo do meu peito, subindo rápido como um nó na garganta. Eu deveria estar feliz. Era o segundo lugar, em um concurso nacional e renomado. Mas tudo o que eu sentia era um vazio esmagador.

  O prêmio n?o era o troféu. N?o era o reconhecimento máximo.

  Era como se todo o trabalho, todas as noites sem dormir, todos os conselhos e encorajamentos tivessem culminado em… menos do que eu esperava.

  Sem dizer nada, comecei a caminhar em dire??o ao palco, as pernas ainda trêmulas e os aplausos soando cada vez mais distantes.

  Eu deveria estar feliz. Ent?o por que aquilo parecia tanto com uma derrota?

  Peguei o certificado e o envelope com o prêmio em dinheiro das m?os do mestre de cerim?nias, que me cumprimentou com um sorriso encorajador.

  — Parabéns, Shin Yamamoto. Seu talento é inegável, e sua história é realmente incrível!

  — Obrigado… — murmurei, minha voz quase inaudível, for?ando um sorriso que mal parecia meu.

  Enquanto caminhava para o lado do palco, aplaudido por um público que n?o sabia o que se passava dentro de mim, senti o peso do momento.

  Era isso? Toda a jornada, o esfor?o, e eu havia parado no meio do caminho?

  E ent?o veio o golpe final.

  — E o grande vencedor do Concurso Nacional de Escrita da Editora Kousei é… Ryuuji Akagi!

  Meus dedos apertaram o certificado em minhas m?os, como se aquele peda?o de papel pudesse compensar a dor de ver o troféu escapar. O rosto dos meus amigos passou pela minha mente.

  O que eles estavam pensando? Será que estavam desapontados? Será que todo o apoio que me deram parecia ter sido em v?o?

  Enquanto Ryuuji subia ao palco com um sorriso confiante, aplaudido como um vencedor incontestável, ele parecia inatingível, t?o distante quanto a própria ideia de vitória naquele momento.

  Era isso. Eu tinha falhado.

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