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O Final da História

  Eu caminhava ao lado de Seiji e Rintarou, ouvindo as vozes descontraídas deles enquanto minha mente vagava por pensamentos mais profundos. O peso das desculpas para Kaori, que antes parecia insuportável, agora tinha se transformado em algo mais leve, quase como um alívio.

  Mas havia algo mais pairando na minha mente: o final da história. Era como um segredo prestes a ser revelado, e eu sentia a expectativa pulsar dentro de mim, tornando impossível afastar a sensa??o.

  — Ent?o, Shin. — A voz de Rintarou interrompeu meus devaneios. Ele me lan?ou um olhar de lado, com o típico ar tranquilo. — Deu tudo certo ontem?

  Fiz que sim com a cabe?a, um sorriso leve surgindo.

  — Sim. Eu e Kaori resolvemos tudo.

  Seiji parou abruptamente, fingindo um espanto exagerado antes de explodir em gargalhadas.

  — Tudo resolvido? Ent?o por que ela n?o apareceu hoje cedo? Será que tá guardando rancor e resolveu boicotar você? — Ele me deu um empurr?o brincalh?o no ombro, a provoca??o evidente no tom.

  Revirei os olhos, suspirando enquanto abria a boca para rebater, mas antes que pudesse falar, uma voz familiar ecoou pelas nossas costas.

  — Guardar rancor? Eu? Nem pensar! Só acordei tarde hoje, tá bom? — Kaori surgiu correndo em nossa dire??o, levemente ofegante, mas com aquele sorriso radiante de sempre. — E aí, pessoal, sentiram minha falta?

  Seiji riu alto, abrindo os bra?os dramaticamente.

  — Kaori, fala sério! Como alguém poderia esquecer você? é literalmente impossível.

  Ela fez uma careta, meio divertida, meio teatral, antes de se virar para mim. Seu cotovelo cutucou meu bra?o, e o olhar dela brilhou com a curiosidade que já era quase uma marca registrada.

  — E ent?o, Shin? Tá mesmo tudo resolvido?

  Eu a encarei por um momento, sentindo o alívio tomar conta. O tom leve dela, o jeito descontraído... tudo parecia ter voltado ao normal.

  — Tudo — sorri, sentindo a tens?o dos últimos dias finalmente se dissipar por completo.

  Kaori retribuiu o sorriso, e, por um momento, aquele pequeno grupo parecia mais sincronizado do que nunca.

  Enquanto caminhávamos, a conversa seguia com o ritmo natural de sempre. Seiji e Kaori se engajavam em uma discuss?o calorosa e completamente sem importancia, debatendo com paix?o qual loja de conveniência tinha os melhores salgados e relembrando quem havia perdido mais partidas no último torneio de cartas improvisado do grupo.

  — Eu n?o sou o pior nos jogos! — reclamou Seiji, cruzando os bra?os. — Você que trapaceia, Kaori!

  — Trapaceio?! — Ela colocou as m?os na cintura, indignada. — N?o é minha culpa se você n?o sabe blefar!

  Rintarou, que caminhava com as m?os nos bolsos e um sorriso discreto, esperou pacientemente a pausa da discuss?o. Ele me lan?ou um olhar tranquilo, mas inquisitivo, e perguntou no momento perfeito.

  — Já pensou no final da história?

  A pergunta dele atravessou o ar como uma flecha, acertando em cheio. Os passos pararam por um instante, e até Seiji e Kaori interromperam a disputa. Kaori inclinou-se em minha dire??o, os olhos brilhando de curiosidade renovada.

  — Conta, Shin! Você já decidiu o final?

  A expectativa nos rostos deles era palpável. Seiji olhava para mim como se eu fosse revelar o maior segredo do universo, enquanto Kaori, impaciente, parecia prestes a sacudir meus ombros para arrancar a resposta.

  Senti o peso das aten??es sobre mim, mas, em vez de ceder, sorri com um toque de provoca??o.

  — Pensei, sim.

  Kaori deu um passo à frente, inclinando-se tanto que quase invadiu meu espa?o pessoal, enquanto Seiji se aproximava com um brilho curioso nos olhos.

  — E? Qual é? Fala logo! — Kaori insistiu, praticamente em cima de mim.

  — é segredo — respondi com um sorriso leve, desviando o olhar deliberadamente para evitar mais perguntas.

  — Ah, n?o, você n?o vai fugir assim! — Seiji exclamou, levantando as m?os em protesto. — Tem que contar pra gente!

  — No clube. — Minha resposta foi calma, mas carregada de uma satisfa??o discreta ao ver a frustra??o deles.

  Seiji deu um suspiro dramático, jogando as m?os para o céu.

  — Ah, grande coisa. E eu? N?o t? no clube de literatura, como fico nessa?

  Fingi pensar por um momento, olhando para ele com um ar deliberadamente misterioso.

  — Tá bom, vem cá — disse, fazendo sinal para ele se inclinar.

  Seiji obedeceu prontamente, colocando a m?o no ouvido para ouvir melhor. Eu me aproximei e sussurrei o final da história, baixo o suficiente para que só ele ouvisse.

  Por um segundo, o rosto de Seiji congelou. Seus olhos se arregalaram de forma exagerada, e ele deu um passo para trás como se tivesse acabado de receber uma revela??o divina.

  — Cara… isso é genial! Emocionante pra caramba! — Ele me olhou como se estivesse diante de um gênio, com um sorriso incrédulo no rosto.

  Kaori, é claro, n?o perdeu tempo. Ela agarrou meu bra?o, balan?ando-o levemente.

  — Shin, n?o é justo! Conta pra mim também! Vai, por favor!

  Eu apenas balancei a cabe?a, mantendo o sorriso.

  — Só no clube.

  — Você é impossível! — Ela bufou, cruzando os bra?os e virando o rosto, claramente indignada.

  Enquanto Seiji ainda murmurava algo sobre como o final era "genial demais para ser segredo", Kaori olhou para mim mais uma vez, mas dessa vez com um sorriso resignado.

  — Tá bom, vou esperar. Mas isso n?o significa que vou te perdoar fácil, tá?

  Rimos juntos, e o peso da manh? foi substituído por uma leveza que parecia reaproximar todos nós. Continuamos o caminho, as vozes de Kaori e Seiji retomando outra discuss?o trivial enquanto a escola surgia à frente, cercada por uma agita??o típica do início das aulas.

  As aulas come?aram com o habitual clima de segunda-feira, aquele misto de pregui?a coletiva e conversas baixas que se misturavam ao som de carteiras sendo arrastadas.

  No entanto, o ambiente ganhou uma energia inesperada quando o professor, batendo duas vezes na mesa para chamar nossa aten??o, fez um anúncio que pegou a turma de surpresa.

  — Todos aqui já devem saber, mas o Festival Escolar está chegando. Relembrando, cada turma deverá decidir o que vai apresentar este ano. Quero lembrar que essa é uma oportunidade de mostrar o talento de vocês e trazer algo especial para o evento, ent?o caprichem.

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  O burburinho come?ou imediatamente. Cabe?as se inclinaram em dire??o às mesas vizinhas, vozes baixas e animadas trocando ideias enquanto algumas pessoas anotavam possíveis sugest?es.

  — Ano passado, a turma 2-B fez aquela sala de terror muito assustadora! Será que eles v?o repetir? — comentou alguém à frente.

  — Ouvi dizer que a turma 3-C vai fazer um café temático inspirado em histórias de romance. Parece bem interessante! — outra voz sussurrou, vinda do canto da sala.

  — Já pensaram em fazer uma pe?a? Eu ouvi que a turma 1-A está considerando algo inspirado em contos de fantasia! — especulou alguém perto da janela.

  A empolga??o era palpável, mas o professor, levantando a m?o em um gesto firme, rapidamente trouxe a sala de volta à ordem.

  — Mas, antes de come?arem a planejar grandes ideias para o Festival, vou lembrá-los de algo importante. — Ele fez uma pausa deliberada, seu olhar percorrendo cada canto da sala. — As provas finais est?o chegando. O Festival é um evento importante, mas n?o quero ver ninguém usando isso como desculpa para notas ruins.

  O efeito foi imediato. As express?es antes animadas murcharam como bal?es furados, e a sala foi tomada por suspiros de desanimo e reclama??es abafadas.

  — Provas? N?o podiam deixar isso pra depois? — alguém murmurou, inclinando-se sobre a mesa.

  — Sempre arrumando um jeito de estragar a divers?o... — outro comentou, batucando na mesa com a ponta da caneta.

  Mesmo com a mudan?a abrupta no humor da turma, minha mente estava em outro lugar. A men??o ao Festival despertou minha curiosidade sobre o que faríamos como turma, mas, ao mesmo tempo, uma pequena ansiedade come?ou a surgir. N?o apenas pela ideia de colaborar com todos, mas também pelo que isso significaria para os dias de prepara??o.

  Enquanto a sala voltava aos cochichos e conversas, o professor acrescentou, com um tom ligeiramente mais leve:

  — Vou dar tempo para discutirem ideias no fim da semana, mas já podem come?ar a pensar no que gostariam de fazer. Lembrem-se de que o Festival é uma chance de mostrar a criatividade e a uni?o de vocês. Participem com entusiasmo.

  E, com isso, ele voltou ao quadro para come?ar a aula, mas a vibra??o na sala n?o desapareceu completamente. Eu conseguia ouvir sussurros ocasionais e risos baixos enquanto alguns colegas trocavam ideias ou faziam comentários ir?nicos sobre as provas.

  No entanto, para mim, minha mente ainda estava em outro lugar. Entre o Festival e o clube onde eu iria mais tarde, os pensamentos se misturavam, e por mais que tentasse, focar na aula parecia uma tarefa quase impossível.

  Tentei focar nas anota??es e acompanhar as explica??es do professor, mas as palavras passavam por mim como um vento que eu n?o conseguia agarrar. Cada minuto parecia se arrastar, mesmo que o relógio indicasse o contrário.

  Quando finalmente o sinal tocou, indicando o fim das aulas, senti uma mistura de alívio e antecipa??o. Recolhi meu material com pressa e saí direto em dire??o ao clube. O momento que eu vinha esperando desde a manh? finalmente estava prestes a chegar.

  Enquanto caminhava pelos corredores em dire??o ao clube, meus pensamentos ainda giravam em torno do momento que estava por vir. As desculpas que fiz anteriormente me aliviaram, mas havia algo mais que eu precisava fazer: oficializar minha reconcilia??o com o resto do grupo.

  No caminho, avistei Kaori conversando animadamente com algumas amigas perto da entrada do clube. Ela gesticulava enquanto falava, rindo de algo que disseram, e o som de sua risada parecia iluminar o ambiente. Uma sensa??o de alívio e gratid?o tomou conta de mim ao vê-la assim, t?o cheia de vida, como sempre.

  Respirei fundo e me aproximei.

  — Kaori, você pode esperar aqui por um minuto? Preciso falar com o pessoal antes de você entrar.

  Ela piscou, surpresa, mas logo sorriu, inclinando a cabe?a com curiosidade.

  — Tá bom, mas n?o demora. Eu t? com fome, e essa espera precisa valer a pena — brincou, recostando-se na parede enquanto eu seguia para dentro.

  O ambiente do clube tinha aquela familiaridade reconfortante: Takumi revisava papéis com a precis?o de sempre, Mai rabiscava algo em um bloco de notas, Rintarou lia calmamente, e Taro, como de costume, estava meio deitado sobre a mesa, os olhos semiabertos, no limiar entre a vigília e o sono.

  Parei no meio da sala, a respira??o firme, e fiz uma reverência profunda, interrompendo suas atividades.

  — Pessoal… antes de mais nada, quero pedir desculpas pelo que aconteceu outro dia. Perdi o controle, e vocês n?o mereciam ver aquilo. Foi um erro meu.

  Takumi foi o primeiro a levantar os olhos dos papéis, o semblante tranquilo de sempre.

  — Tá tudo bem, Shin. Mas n?o esque?a que quem mais precisava ouvir isso era a Kaori.

  Endireitei a postura e assenti.

  — Eu já pedi desculpas pra ela. E… tá tudo bem agora.

  Mai ergueu uma sobrancelha, o sorriso dela se ampliando com um toque provocador.

  — Já? Que eficiente, hein? — Ela apoiou o queixo nas m?os. — Deixa eu adivinhar… teve algo especial no meio, tipo algum doce?

  Ela acertou em cheio, mas antes que eu pudesse responder, a porta se abriu, e uma energia inconfundível invadiu o ambiente.

  — Falando de mim? — Kaori entrou com um sorriso radiante, jogando a mochila em uma cadeira próxima. — Pra deixar claro, tá tudo bem entre mim e o Shin. Ent?o podemos voltar ao normal, né?

  O alívio foi imediato. Takumi sorriu, Mai soltou uma risada curta, e até Rintarou ergueu os olhos do livro, o canto dos lábios puxando-se em um pequeno sorriso. Taro soltou um grunhido que parecia uma tentativa de assentir antes de voltar a cochilar.

  Kaori olhou ao redor, satisfeita com o impacto de sua chegada, mas logo cruzou os bra?os e apontou para mim com um olhar quase desafiador.

  — Agora que tá tudo resolvido, conta logo o final! — exigiu ela, inclinando-se levemente para frente com uma curiosidade quase infantil.

  Todos os olhares se voltaram para mim, e senti o peso da expectativa crescer. Meu cora??o acelerou, e um nó de nervosismo se formou no est?mago.

  — é… eu pensei em um final, sim — disse, hesitante.

  Kaori estreitou os olhos, detectando minha inseguran?a.

  — E? N?o vai contar? — Ela insistiu, enquanto Mai, Takumi e Rintarou murmuravam encorajamentos do tipo "vamos, Shin" e "ninguém aqui vai julgar você."

  — Na verdade… n?o só pensei, como escrevi. Tá aqui. — Tirei alguns papéis da mochila, mas hesitei, segurando-os com firmeza como se pudessem escorregar dos meus dedos. — Mas… e se n?o for bom? E se n?o combinar com o resto da história? O prazo tá quase acabando, e… e se esse final n?o for o suficiente?

  A sala ficou em silêncio por um momento, mas ent?o Takumi levantou a m?o, o gesto calmo, mas firme o suficiente para cortar minha espiral de pensamentos.

  — N?o é sobre ser perfeito, Shin. O importante é: você acredita nesse final? Se ele te moveu enquanto escrevia, tem algo verdadeiro nele. E algo verdadeiro sempre chega ao leitor.

  Kaori inclinou-se para frente, o sorriso encorajador no rosto, mas com um toque de determina??o nos olhos.

  — Você nunca vai saber se é bom até deixar alguém ler. Ent?o, para de enrolar e entrega logo. — Sua voz tinha aquele tom alegre e provocativo que sempre conseguia aliviar qualquer tens?o.

  Rintarou, com sua usual tranquilidade, completou:

  — Melhor ouvir o que temos a dizer antes de se preocupar tanto. Confia na gente.

  Olhei para todos por um instante. A ansiedade ainda estava lá, mas as palavras deles me deram coragem. Respirei fundo e estendi o papel, entregando-o com dedos que ainda tremiam levemente.

  O silêncio que se seguiu foi quase sufocante. Cada segundo parecia durar uma eternidade enquanto eles mergulhavam no texto. Meu olhar saltava de um rosto para outro, buscando qualquer sinal de rea??o.

  Kaori foi a primeira a falar. Ergueu os olhos do papel, e havia algo inesperado neles: uma lágrima solitária descia por sua bochecha.

  — Esse final… — come?ou ela, a voz trêmula antes de abrir um sorriso largo. — é genial.

  Meu cora??o deu um salto, dividido entre surpresa e alívio. Antes que eu pudesse responder, Takumi se levantou, batendo levemente nas costas da cadeira como se precisasse liberar a energia.

  — Eu n?o mudaria nada. Esse final é perfeito, Shin! Impactante e emocional na medida certa.

  Rintarou, com seu tom sempre ponderado, acrescentou:

  — Concordo. Ele amarra tudo com muita for?a. Dá pra sentir o peso e a mensagem que você quis transmitir.

  Mai, que ainda segurava o papel com ambas as m?os, olhou para mim com uma express?o de aprova??o genuína.

  — Shin… esse final tem um impacto que faz o leitor parar e pensar. Ele n?o só conclui a história; ele deixa uma marca. Dá pra sentir o quanto você colocou de si aqui. é realmente impressionante!

  Até Taro, despertado por algum milagre, murmurou:

  — Bom final. Muito bom mesmo. ótimo trabalho, Shin

  Fiquei parado, sem saber o que dizer, mas o sorriso nos rostos deles dizia tudo o que eu precisava ouvir. Meu nervosismo se dissolveu, substituído por uma onda de alívio e gratid?o.

  Kaori limpou a lágrima do rosto com o dorso da m?o e olhou para mim com determina??o.

  — Com esse final, Shin… você vai vencer. Eu sei disso.

  — Ryuuji que se cuide — brincou Mai, piscando para mim.

  Eu ri, balan?ando a cabe?a, ainda meio surpreso pelas suas rea??es.

  — Obrigado, pessoal. De verdade. Eu ainda vou ajustar alguns detalhes, mas… estou muito mais confiante agora.

  O ambiente do clube parecia mais brilhante, mais vivo. O peso do final parecia ter desaparecido completamente, substituído por uma determina??o renovada.

  Enquanto guardava o papel com cuidado, senti algo novo brotar em meu peito: a certeza de que, n?o importava o resultado, eu tinha conseguido criar algo significativo. E isso era o suficiente.

  O caminho de volta para casa, junto de meus amigos, parecia diferente, quase como se a rua refletisse o alívio que agora habitava meu peito. A luz do p?r do sol pintava o céu com tons quentes de laranja e dourado, enquanto uma brisa suave acariciava o rosto, trazendo um momento de paz t?o raro quanto necessário.

  Depois de tantos dias de incerteza e press?o, havia algo novo em mim. N?o era apenas confian?a no final que escrevi, mas uma sensa??o de que, independentemente do resultado, eu tinha colocado meu cora??o naquela história.

  Olhei para o horizonte, onde o sol lentamente se despedia, e um sorriso determinado apareceu no meu rosto. O dia seguinte marcaria o início do Concurso de Inverno.

  Depois de tudo isso, eu sabia que o próximo passo n?o era só sobre vencer, mas sobre confiar no que escrevi… e, mais importante, confiar em mim mesmo.

  Com esse pensamento, continuei meu caminho, pronto para enfrentar o que estava por vir.

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