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18

  Saindo do sufoco com uma lufada pesada de ar, Graco acorda daquele sonho lúdico que ficou preso. Respirando rapidamente e nervoso, ele se vê suado e tremendo, toda aquela intensidade de emo??es turbulentas afetaram bruscamente sua tranquilidade cotidiana.

  'O que foi isso? Fazia semanas desde meu último pesadelo, mas este foi muito mais potente e teve um domínio enorme em mim'

  'EU TE AVISEI, GRACO. Este poder ele é manipulador e ardiloso, ele te levou pelo nariz como um idiota para a armadilha dele, ele brincou com nós dois.'

  Eztli grita furiosa na mente de Graco, indignada por ele ter subestimado seus avisos constantes. Suspirando assustado e aflito com todas as cenas que assistiu e sentiu.

  Ela repassou as memórias de Graco quando estava no vazio, contudo ela n?o tinha acesso pleno em algumas, essa foi uma delas que foi trancada com cadeados e correntes fortes, era uma memória que Loc reprimia e afugentava com firmeza.

  'Desculpa, Eztli. Eu fui levado pela sensa??o e n?o pensei direito, me superestimei.'

  'Tivemos sorte, a entidade apenas jogou com nós dois, ela n?o iria sabotar um usuário promissor. Graco você deve entender que existe uma probabilidade enorme de que um reparador da sua idade nunca existiu, e se existiu foi menos da metade da quantidade de dedos de sua m?o esquerda.'

  'E por este motivo, a entidade irá te deixar livre na engorda, mas quando você estiver no ponto de seu desejo, ela vai querer te controlar. Isso foi somente uma malandragem boba, uma sondagem infantil com seus brinquedos.'

  'Nunca poderemos sair do jogo da entidade, agora n?o importa o que nos levou a este ponto, mas que n?o há mais volta. Ou nos adaptamos enquanto caminhamos em cacos de vidro, ou seremos apenas mais uma marionete dela'

  Sem saber responder, Graco fica em silêncio, Eztli por estar totalmente exasperada e explodindo em emo??es, também fica quieta. Ela culpa Graco, porém n?o alimenta este sentimento, porque sabe que Graco tenta melhorar, ele n?o se deixa cair como uma ancora no comodismo de sua nova vida.

  Eles sentem as emo??es e sentimentos um do outro, e isso somente colabora para consertar as mazelas que carregam. Entretanto, apesar de toda a honestidade que conseguem discernir, ela se permite ficar irritada pela primeira vez com Graco.

  Eztli com toda a sua afoba??o, despeja sua frustra??o acumulada em Graco. Ela sabe que mesmo com a coexistência, ela n?o faz parte deste corpo, ela esta apenas orbitando a existência de Graco.

  Isso a entristece, ela n?o tem algo que pode ser dela, ela vive pela prosperidade de Graco, pois este é o único modo dela poder ter uma vida mais digna.

  Espremida em um canto limitado, sentindo somente o que Graco pode sentir, ela se pergunta se sua despersonaliza??o decorre da influência involuntária de Graco. Suas dúvidas s?o diariamente respondidas pela sua leitura dos pensamentos de Graco.

  Eles n?o retiraram esta coabita??o de emo??es, sentimentos, pensamentos e sensa??es ainda apenas pelo fato que seria mais benéfico para sua rela??o utilitária ter o verniz da verdade os ajudando.

  Deste modo, as concess?es emocionais s?o entregues automaticamente e n?o cria brechas para a desconfian?a, a fidelidade e confian?a é n?o é uma variável, mas sim uma constante. Os ajuda tremendamente, contudo isso n?o filtra o que eles podem sentir.

  Esta insatisfa??o de Eztli n?o advém de um egoísmo ingrato, Graco sabe disso e sente empatia por ela, e ele tenta ajudar ela com isso, mas sua incapacidade n?o pode resolver os óbices do tipo de vivência limitada de Eztli.

  Ela estourar desse jeito é a gota da água de todo o naufrágio do autocontrole dela, a cereja do bolo foi ele ter caído nas tenta??es da entidade. Ela se irritou pelo o 'se' tivesse ocorrido algo pior, mas despejar sua frustra??o era inevitável.

  Ela vive como um aleijado há muito tempo, e as pequenas recompensas que ganha n?o é uma panaceia, apenas um placebo desaforado que a realidade atira em sua cara todos os dias.

  'Eu n?o te odeio, Graco. Eu comecei a gostar de você e sua família, tento n?o nutrir um amor fraternal, pois sei que n?o posso o sentir normalmente. Eu sinto os abra?os e afeto que você recebe, mas isso somente me lembra que eu sou um deficiente incompleto, uma anomalia estra?alhada por tentar manter o mínimo de humanidade, mas nem humano sou mais.'

  'Todo o ato nobre que fiz de te proteger na época na escurid?o foi somente para eu conseguir n?o ser mais isso, essa casca oca que virei, eu quero ser viva de novo, Graco, mas nem sei se isso é possível. Posso viver para sempre deste modo e n?o ter o que eu fazer, eu simplesmente n?o aguento existir miseravelmente, Graco.'

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  Solu?ando enquanto chora lamentavelmente, Eztli se sente cansado, derrotado e sem esperan?as. Este sonho do passado de Graco, trouxe uma quebra de expectativa violenta a ela, todo aquele estrondo de emo??es de Loc atropelou toda a sua calma e prepara??o psicológica para uma realidade que ela tem muita chance de cair.

  Pior ainda, é a probabilidade de ela ser imortal, porém n?o viver além deste modo de alma pensante dela, condenada para uma eternidade presa nos próprios pensamentos.

  Ela sabe que ela pode ser somente um truque dissimulado da entidade, que a criatura pode estar dando falsas esperan?as a ela para depois usurpar tudo dela.

  Eztli está no fogo cruzado da inseguran?a e de ser somente um peculato dos esquemas da entidade, até ser somente uma ferramenta, como um fantoche ou cavalo de troia servido como ardil quando a entidade estiver tramando.

  A tens?o de estar se perdendo está fazendo o sistema de Eztli acabar na inani??o de sua personalidade. Ela se reconhece, mas se sente vazia, com escassas lembran?as boas, com memórias hostis escolhidas a dedo por aquele ser abissal.

  O gatilho foi apertado, tudo aparenta ser uma conspira??o da criatura para Eztlia, sua paranoia desenfreada está fazendo ela sucumbir perante o medo e receio, ela sente que está caindo sob as asas malignas da escurid?o mais uma vez.

  Ela confia em Graco, ele foi o mais perto possível da pessoa que ela mais pode confiar, todavia, e se for meramente um estratagema sagaz daquela escurid?o, e se eles estiverem caindo nas teias, na armadilha do abismo a cada passo em um futuro nebuloso e incerto.

  Eztli tentou amorda?ar sua carência e medo com focinheiras chamadas de determina??o e disciplina. Mascarar todo este teatro de Graco foi muito difícil, a culpa de ter dado o conselho de Graco confiar, no entanto, ela ter a covardia de amar novamente a fez ela se sentir uma hipócrita limítrofe.

  Eles podem esconder o que sentem um do outro, mas é uma tarefa que exige foco, para Graco é incomum, contudo para Eztli é natural, ela tem toda a experiência de ter vivido eras no limbo.

  'Graco, me desculpe. Acho que n?o posso te ajudar, estou ficando louca faz tempo, mas fingi estar s? para você me ajudar. Vivo em cárcere privado desde que me lembro de ser eu, e ainda estou nesta pris?o que a realidade me colocou e jogou a chave fora.'

  'Quando crian?a era na minha casa, na adolescência foi em um por?o sem luz do sol, na vida adulta em um quarto sem janelas, depois na escurid?o do vazio, e agora em minha alma.

  'N?o estou te criticando, Graco, agrade?o sua gentileza por deixar eu entrar em seu corpo de vez em quando e sentir o que você sente, de ter me estendido a m?o em meu momento de desespero. Mas minha vida será isso, Graco, eu presa pela eternidade, na mesma pris?o e trocando de celas periodicamente.'

  'Fiquei na solitária por muito, muito tempo, só agora estou presa a você, Graco, mas isso um dia vai desaparecer, e estarei sozinha novamente, acompanhada com toda a nocividade da imortalidade.'

  Eztli, derramando suas lágrimas em sua forma espiritual na alma de Graco, faz seu discurso com uma angústia densa, suas palavras demonstram sua palidez de esperan?a. Graco sente como ela está fragilizada e abalada, ele se deixou enganar em dois eventos cruciais recentemente.

  A de que Eztli se tornou tenaz e de que tinha as sanidades mentais saudáveis, e sobre a manipula??o da entidade.

  Graco tenta digerir todo o peso das adversidades que Eztli passou, ele se sente culpado e triste por ter dado ela como bem, sem se preocupar com postura sobre sua real condi??o.

  A intimidade deles era direcionada para um progresso mútuo, ela o ajudava com conselhos sobre rela??es e sobre o poder da escurid?o, mas o que ele fez por ela?

  Ele se apegou a ela, ele deu ela como garantido, no entanto, a tratou n?o como uma pessoa igual, mas uma assistente psicológica inabalável ou um rob? professor, isso o repugna neste momento. Ele nunca cogitou a legitimidade dos sentimentos dela, contudo, ele n?o se perguntou se havia mais que isso.

  Um remorso avassalador o atinge com pancadas fortes de arrependimento. Ele reconheceu neste momento, que ele n?o deve tratar ela apenas como uma igual, mas como uma pessoa que merece tanto afeto dele quanto dos outros, uma real segunda chance com todos as amarras desintegradas.

  'Abrace a solid?o quando se está caindo no vazio existencial, pois você estará sozinho, e leve uma vela chamada propósito. Assim você aprenderá a viver na desola??o, e a pequena chama da vela n?o irá te desacostumar com o breu do seu novo habitat ou ter objetivos irreais além de sua condi??o miserável. O propósito te guiará, mesmo no mais profundo abismo.'

  'Essa era minha filosofia, Eztli. Mas n?o vivo mais no abismo, n?o preciso mais dele e n?o quero ele. Prometi que n?o iria te trair, que iria te tratar bem, e falhei ... Eztli, você deve ter tudo que eu tenho, somos lados diferentes da mesma moeda, precisamos um do outro, eu gosto de você como gosto da minha família, irei me sacrificar por eles e você.'

  Enquanto ocorre esse diálogo, as almas entrela?adas de Eztli e Graco se fundem com mais for?a, a parte cinzenta e branca se complementam com ferocidade. O orbe abissal uiva em festividade no aspecto umbral ativo, lan?ando seu breu no espelho esférico, nas almas e no pequeno núcleo do corpo de Graco.

  'Eu sinto tudo que você sente, n?o duvido de você, Eztli, quero você mais presente na minha vida. Você carrega uma cruz latejante, e espero te ajudar no percurso em puxá-la. N?o tenha medo de amar, Eztli.'

  'Obrigado, Eztli, por cuidar de mim, você fez além do que o acordo pediu, e espero fazer o mesmo por você agora. Temos que resolver nossas divergências internas, Eztli, a partir de hoje n?o vamos destruir, iremos proteger, é preciso imensamente de você para isso, n?o conseguirei sem você, me ajude, por favor.'

  Graco e Eztli, chorando silenciosamente, olham um para o outro em suas formas espirituais em suas almas, compartilhando e empurrando seus sentimentos.

  Eztli, inicialmente relutante e medrosa, mas libera, após secar suas lágrimas, tudo que sente a Graco, suas formas de vapor se abra?am, uma cacofonia veloz é criada, a fuma?a do orbe tenta entrar nesta a??o e é repelida.

  As duas almas em vapor, giram em torno uma da outra, criando um furac?o feroz que se joga raivosamente contra o orbe, uma luta louca pela dominancia se inicia.

  O espelho esférico da vitalidade urge selvagemente, emanando sua aura e se juntando na briga espiritual.

  Graco e Eztli caem na inconsciência mútua, o vazio eterno retorna, fechando seus seres. O corpinho de Graco tem espasmos violentos, seus olhos viram e sua boca solta espuma branca.

  As veias negras se intensificam, incham como se fossem explodir, as escamas ardem e se aprofundam, as tatuagens rodopiam em sua pele como se fosse criar frases predestinadas, fuma?a negra é liberada de sua pele como se tentasse expulsar a corrup??o da crian?a.

  Toda a luz do quarto treme e é sugada, oscila??es e sons agonizantes surgem e se estendem por toda a casa. Gritos de dor e lamenta??o acompanhados por uma risada insana se revezam em uma can??o infernal.

  O corpo de Graco come?a a flutuar macabramente, seu rabo preto for?adamente se enrola em seu pesco?o, objetos come?am a tremer e se mexer, a escurid?o inundou a sala.

  As m?os com dedos em garras de Graco apertam sua palma, sangrando-a e absorvendo o sangue escuro repetitivamente.

  Os pequenos chifres da cabe?a de Graco quebram como um galho.

  Dois olhos totalmente negros surgem na testa de Graco, eles se estreitam ao mesmo tempo em que Graco sorri divertidamente. Tudo se intensifica, asas dobradas e caídas surgem nas costas de Graco, suas pernas soltam sons de ossos estalando.

  Seus joelhos se dobram para dentro e em seus pés criam cascos pretos.

  Os maliciosos olhos da testa se juntam para formar um orbe escuro e brilhante do tamanho de uma bolinha de gude, dentro dele há uma fuma?a branca pura que se acende como uma chama calma e solitária, uma monotonia desolada é aparentada nesta discrepancia entre a escurid?o abissal e o branco imaculado.

  O orbe cai da testa de Graco, para formar uma gargantilha de aparência arcaica e nobre em seu pesco?o. Uma fuma?a branca rompe do orbe, devorando violentamente a negra, o processo é interrompido com a extin??o do gás abissal.

  Originando uma fuma?a escura cinzenta volátil e cáustica com cintila??es brancas que, subitamente, come?a a emanar da pele de Graco.

  Como cinza de churrasqueira, todas as altera??es do aspecto umbral voam ao vento, as maluquices do quarto param abruptamente e o corpo de Graco cai levemente no ber?o enquanto é segurado pela fuma?a escura cinzenta.

  Tudo volta ao normal, exceto que agora, Graco tem uma tatuagem preta e branca em forma da anatomia de um cora??o e do tamanho de um olho humano no local da artéria carótida do pesco?o.

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