Loc
Loc acorda desorientado por todo o processo de reajuste de realidade que agora vive, mas a for?a da descren?a o faz fixar o olhar para o teto, somente para ver a intrincada e lisa madeira castanho escuro do quarto em que está.
A discrepante luta da luz adentrar o quarto pela janela coberta por cortinas pesadas e vermelhas, puxa o olhar de Loc para a grande janela.
Com a vis?o direcionada a esta vis?o, Loc recebe um panorama de todo o c?modo em que vive, pois seu ber?o está no canto da sala.
Talvez no fim da tarde ou início da manh?, mas Loc se sente disposto e em paz como nunca, sem preocupa??es e desejos de um ódio fervoroso.
'Dormi muito tempo, eu acho? Sinto como se estivesse fazendo parte pouco a pouco a esse corpo de bebê.'
verbalizando mentalmente suas sensa??es, Loc tenta erguer seus bracinhos gordos ao ar, apenas para sentir a estranha leveza e peso de um recém nascido.
Uma leve fome chega a seu pequeno est?mago, e Loc sente toda a estranheza de n?o ter nenhum um ano de vida, é presenteado com a tranquilidade da inércia física e espiritual.
'Meio chique este lugar. Devo estar vivendo em qual época da tecnologia neste lugar?'
Sabendo que terá muito tempo para a síntese de informa??es e tomada de conhecimento, Loc n?o se preocupa em fazer uma maratona e n?o uma corrida de pensamentos.
Filosofar levemente é uma atividade rotineira em sua vida, afinal os tempos de ócio eram em lugares sem atividades recreativas, além dele n?o ter sido f? dos prazeres carnais.
Em seu ber?o com grades de madeira, Loc sente-se um pouco encarcerado, e n?o poder se virar facilmente, somente gera um leve inc?modo, ele gosta de dormir de lado.
Após alguns minutos de um laborioso desenvolvimento do ir e vir de inferir sobre seu modo de vida atual, Loc ouve um leve som de porta se abrindo.
Tentando angular seu olhar para a porta dupla da sala, Loc vê a loira e ruiva de provavelmente trinta anos, as duas caminhando com passos lentos enquanto conversam entusiasmadas palavras que Loc acha parecido com o vocabulário dos gringos americanos.
As duas com cal?as largas de um tecido preto, com camisas brancas que vai até os pulsos e contém babados em volta do pesco?o e pulsos, suas figuras esguias e graciosas deixam uma boa postura em sua vestimenta.
'Que eu saiba n?o tem sentido que duas pessoas muito parecidas tenham cores de cabelos diferentes, mas rostos muito parecidos.
Elas até têm a mesma pinta no canto da boca e cabelos lisos levemente ondulados' Exasperado, Loc adquiriu um olhar fixo nas duas mulheres que, agora, já est?o dentro do quarto.
A ruiva logo que se aproxima da cama, se joga nela com vontade, inesperadamente para Loc, n?o faz um som de madeira rangendo, e a ruiva fica lá, com o rosto enterrado nos edredons com os bra?os e pernas esticados.
A loira em frente a cama, olha e faz um olhar brincalh?o com um sorriso no rosto, assistindo com as m?os na cintura a pregui?a da ruiva. Satisfeita, a loira vai até o ber?o, ela e Loc trocam um longo olhar, até ela soprar no rosto dele e fazer sons engra?ados com a boca, dando um sorriso com seu gesto gentil, Loc solta uma risadinha infantil e sem gra?a.
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A loira ri junto, se curvando para pegar com cuidado sua crian?a, erguendo Loc e o trazendo para perto de seu torso, enrolando em seus bra?os, ela o olha com carinho e beija a testa de Loc.
'Saudade desse sentimento maternal, melhor do que um adulto como eu deveria achar' Loc suspira mentalmente, mas aprecia afavelmente a demonstra??o de amor.
A loira o traz para a cama em silêncio, senta-se ao lado da ruiva que, agora está deitada de lado enquanto encosta a m?o na cabe?a.
As duas o olharam com curiosidade, Loc também, mas ele vê que suas a??es s?o atípicas para um bebê, nisso ele come?a a se remexer e piscar os olhos rapidamente.
A loira o traz para mais perto ainda, e o coloca em frente a seu seio, alarmado com a situa??o, mas igualmente com fome, Loc n?o resiste a o instinto básico de seu corpo e puxa a camisa de sua nova m?e, e come?a a se alimentar de olhos fechados.
Sentindo o sabor um pouco doce do leite, Loc vai caindo na inconsciência, sem tentar discernir a comunica??o entre as duas mulheres que o observam afetuosamente.
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Loc mais uma vez acorda em seu sonho do passado, contudo com uma calma fria, porém dessemelhante com a indiferen?a nociva que tinha frequentemente.
Ele se vê em um barraco de bambu com telhado de palha, moribundo, mas tinha a utilidade mínima de o proteger da chuva do sudoeste da ásia.
Deitado de barriga para cima enquanto fuma pregui?osamente seu cigarro fino, Loc fica escutando o som da chuva e do vento.
Sua arma, facas e fac?es ao seu lado, Loc n?o sente a seguran?a em qualquer lugar, apenas o puro instinto temperado por anos em um ambiente tenso.
Duas batidas ocorrem em sua porta fraca, fazendo Loc se levantar lentamente e sem fazer barulho, erguendo seu fuzil, assoprar a fuma?a do cigarro uma última vez, o jogar do ch?o e pisar forte.
''Loc, vamos logo. Temos que ir, ficar nesta vila abandonada n?o vai dar em nada, logo os norte nos acham.''
Ouvindo a comum voz explicativa de Thai, Loc relaxa levemente.
Loc ainda n?o aceita plenamente a ordem de seu novo comandante, mas o utilitarismo dele organiza a equipe com eficiência faz Loc grato por n?o ter que usar seus métodos violentos.
Mesmo para Loc, n?o assistir a violência é preferível, porém a ver é uma neutralidade aceitável, ainda mais quando ela resolve rapidamente situa??es inoportunas.
Recolhendo seus pertences, Loc abre a porta para ver Thai já indo embora em dire??o ao grupo de homens armados próximos da floresta, enquanto conversam e bebem uma garrafa de cacha?a passada para cada um.
Chuviscos amenos com um céu nublado assaltam o corpo de Loc novamente, fechando a porta com o pé e logo inicia sua caminhada indefinida a um outro posto ou qualquer coisa.
Passando pela pacata vila abandonada e decrépita, Loc pensa nas consequências da evas?o. Alguns ser?o capturados, e sofrer?o a amargura imoralidade dos animais que a guerra cria.
A apatia deturpa a percep??o de Loc em rela??o a importancia das pessoas, mas n?o o impede de pensar no sofrimento alheio.
Talvez ele pudesse ter sido uma pe?a diferente no tabuleiro, uma que n?o tem o domínio da for?a e o ímpeto bestial de continuar em meio a pulveriza??o seletiva.
Distraindo e divagando, Loc demora para notar uma crian?a o observando escondido atrás da janela de uma casa vazia.
Paralisado com o significado disso, Loc tenta n?o demonstrar sua rea??o, mas tarde demais, pois alguns n?o s?o arrastados pelos próprios pensamentos como Loc.
"Espi?o porra. Pega ele, caralho" Um dos do grupo de Thai, avista a crian?a e grita em alarme. Já correndo em dire??o ao pequeno marginal assustado.
O grito gera uma como??o no grupo, que inicia uma ca?ada, Loc e Thai vendo isso ficam em choque, pois ou matam o moleque, ou ficam no fio da linha da probabilidade dele ser um delator.
Tirados de seus pensamentos, é o som estridente de um assovio que os despertam.
Correndo já ouvindo tiros, Loc vê no final da vila, o menino caído no ch?o com a perna sangrando, ele geme e engasga de dor enquanto assiste horrorizado homens armados se aproximando dele.
"N?o mate. Veja o que ele tem para falar" Thai comanda, mas consegue discernir o objeto do som distante de antes. Suspirando com pesar, Thai se aproxima do menino e se agacha em sua frente.
"Qual teu nome? ...'' Thai pergunta com calma, e como resposta o menino o olha com ódio e cuspi em seu coturno.
Thai simplesmente o encara com tristeza, pois sabe que é somente uma crian?a que caiu no caminho da disputa ideológica vingativa. Thai se afasta com pesar da crian?a para olhar o ambiente.
Loc olhando fixamente para a cena, ouve sons de farfalhar e passos na terra molhada, balbucios e alguns gritos. Todos de seu grupo se posicionam e est?o atentos. Loc olhando para o menino e o vê sorrindo.
"Fodam-se vocês, traidores"
Novos combatentes se aproximam, um deles atirou no garoto e ri. Logo um tiroteio irrompe no matagal, Loc se encontra em mais uma disputa inútil que o faz agir somente pelo catalisador destrutivo que criou.
Uma crian?a perdeu a vida em sua frente pelos próprios aliados dela, tratada como algo descartável. A guerra espalha e semeia o caos, esfregando com desgosto a futilidade da própria vida das formigas que eles s?o.
A realidade impiedosa dá o rosto da perversidade, gerando um ciclo que Loc sabe que vivenciará diversas vezes.
‘Tratado como um objeto inútil, que serviu seu propósito. Esta é a honra e forma de se vingar que ofereceram a ele.'