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DESCIDA DE SOL COMO BELLA - 92.715 E8

  N?o sei porquê, mas precisamos nos preparar para o que está vindo contra nós.

  I

  - Ah, vamos lá, pessoal, gostaria que fossem vocês os meus pais. Vocês dois, descendo juntos, v?o conseguir se encontrar. Vocês v?o ajudar nisso, n?o v?o Lázarus?

  - Claro que vamos – sorriu Ariel tomando o pulso de Sol com carinho, os olhos passeando pelos rostos de Mulo e Valentina.

  Valentina observou bem os olhos luminosos da amiga, e se imaginou em uma busca desenfreada por Mulo. E sua amiga já descera inúmeras vezes, desde a guerra dosvivos. Em algumas das vezes tivera sucesso em encontrar Adanu, mas o tempo estava errado. Ou ela era crian?a demais ou velha demais quando se encontravam. Era muito complicado sincronizar vidas. Mas, finalmente, tinha certeza de que agora haviam conseguido. O tempo era algo difícil com que se acostumar quando se está descido, ainda mais com um pesado véu sobre sua alma.

  Adanu se tornara um chefe muito renomado e respeitado dos danatuás, e estava quase sempre na regi?o da pedra riscada, no centro leste de Mércia, de lá se ausentando em períodos muito curtos. As vilas e habita??es no entorno eram inúmeras, e a regi?o era até bem pacífica, o que iria facilitar muito a sincroniza??o. Além disso, era fácil ver que uma conjun??o para que os veladores come?assem a descer ali come?ava a se refor?ar.

  Mulo suspirou, um sorriso belo no rosto.

  - Tudo por você, meu amorzinho – concordou com um grande sorriso, os olhos carinhosos presos nos de Sol. – Será uma honra nós descermos e sermos seus pais.

  - Vou ser uma m?e muito severa, já vou avisando – Valentina declarou, lhe dando um pequeno belisc?o.

  - E eu n?o sei se vou querer deixar minha filhinha ficar com o brutamontes do Adanu – sorriu com deboche.

  Sol n?o se aguentou e abra?ou fortemente os dois.

  - Obrigada, obrigada...

  Ao se separar tinha os olhos marejados e felizes, as m?os se esfregando alegres uma na outra.

  E foi assim que Mulo e Valentina desceram como poderosos ellos, que logo nos primeiros dias se tornaram amigos que rapidamente se firmaram como um casal. N?o demorou muito e logo trouxeram à vida no planeta uma manira-ellos, que a todos encantava.

  - Bella, esse será o nome dela – falou Valiá, a m?e, sob os olhos amorosos do pai.

  Lázarus segurou com carinho a m?o de Ariel, totalmente perdida na contempla??o dos amigos. Ent?o sondou um lugar ali perto, uma dor gostosa correndo no cora??o. Lázarus notou seus olhos felizes e seguiu sua aten??o, n?o podendo deixar de também se sentir feliz.

  Adanu, o grande general de guerra, parecia ter mudado nos últimos dias, se mostrando em constante expectativa sempre sondando os horizontes, como se tivesse pressentido a aproxima??o de algo que há muito lhe fazia falta.

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  - é, ainda n?o ficou perfeito – Ariel parou, examinando a linha de tempo dos dois.

  - é difícil, meu bem. Ele já participou de inúmeras batalhas, e tem muitas cicatrizes, n?o só no corpo. E ela está como sempre foi, com esse sentimento de liberdade e for?a. Os dois v?o se estranhar muito, mas n?o v?o se matar nesses encontros ..., eu acho. Bem, se isso acontecer, a gente tenta de novo... – sorriu.

  Lázarus parou, cismando sob os olhos avaliadores de Ariel.

  > Vamos cuidar para que n?o se matem, está bem? – exigiu com uma grande risada. – Isso me lembra algo – falou, levando uma cotovelada de Ariel.

  II

  - Você n?o sabe o que fala, menina – rebateu o grande curupira com cara de poucos amigos. - A ignorancia, quase que sempre, é um fardo que a pessoa n?o vê que carrega, apesar de sentir no pelo.

  A manira-ellos se empertigou, o ódio transpirando por todos os seus poros.

  - Só porque participou da guerra se sente t?o importante? Pois eu lhe digo, vira-pés, que eu estaria em meu elemento ali. Sou guerreira, sou filha das matas e da guerra. Nas guerras forjo meu espírito e ... O que foi? – perguntou fazendo um muxoxo de desagrado ao ver que ele a examinava com um pouco de desprezo.

  Adanu a examinou com cuidado. N?o podia esconder que era uma manira maravilhosa e com um gênio que lhe agradava, por ser independente e determinada. Mas ela era arrogante, e muito nova ainda. Ela teria o que? Talvez uns setenta anos, se muito – avaliou.

  - Balelas de uma crian?a cheio de ego.

  - Sei o meu valor – falou a garota, a lan?a vindo alguns milímetros para o lado enquanto as m?os se fechavam mais fortemente sobre ela.

  Adanu bufou exasperado, baixando os olhos para a grama aos pés de FuraTerra. Ent?o devagar desceu do amigo e se plantou à frente da menina impertinente que já o vinha incomodando há algum tempo. N?o sabia porque, mas eles acabavam sempre se esbarrando, por mais cuidado que tivesse.

  Devagar olhou para ela e, contrangido, novamente se perdeu pensando o quanto ela era magnífica. Depressa abanou a cabe?a, vendo os modos tensos dela, e a arrogancia que tanto o enervava.

  - Por que n?o se vai embora? – perguntou ganhando ainda mais altura à sua frente, os cabelos se tornando um pouco mais avermelhados, o que fez surgir em Bella um sorriso de vitória.

  - Ent?o aqui está. Finalmente consegui te fazer ficar bravo de novo, héim?

  - Já me viu bravo outras vezes, e sabe como isso vai terminar...

  - Sei, outra surra para você, algumas marquinhas para mim – riu afastando levemente as pernas e flexionando os joelhos suavemente, enquanto descia a ponta da lan?a em mira para o seu cora??o.

  III

  - Outra vez? – riu Lázarus de olho nos dois, que se batiam logo abaixo.

  - Outra – falou Ariel, absorta na batalha dos dois. – Eles n?o querem se matar, mas apenas se ferir. Uma brincadeira?

  - Ajuste, eu acho. E Mulo e Valentina?

  - Est?o mais no norte. Sol acabou descendo sozinha a trilha enquanto ca?ava.

  - Isso é o que ela pensa, n?o é mesmo? – riu mais uma vez.

  Ariel se voltou para Lázarus, um sorriso malandro de descoberta preso no rosto.

  - Você???

  - Um sussurro ali, um obstáculo noutro lugar, um desvio apontado, uma ca?a fugindo para algum lugar ... Um toque na vontade de ArrancaTerra...

  - Mas você n?o tem jeito, héim? – riu se abra?ando nele. Felizes, os dois se deixaram a observar o curupira e a manira-ellos batalhando com fingida ferocidade. - Fico imaginando como Miguel e Emanuel, e Derfla e os outros deviam rir, vendo quando fomos nós.

  - Ah, eles devem realmente terem se divertido a valer – Lázarus concordou. - Uiiii, essa doeu – a face dele se contraiu ao ver o ferimento profundo perto da primeira costela, que Bella acabara de infringir a Adanu com uma faca que, agilmente, sacara da coxa, no exato momento em que ele a atingira com uma palmada de fogo.

  - Essa marca n?o vai desaparecer – Ariel suspirou, ao ver que os dois se afastavam e ficavam se estudando.

  - Olha, você viu, Lázarus? – Ariel apontou para dois, um sorriso maravilhado no rosto. – A preocupa??o deles, temendo ter ferido demais o outro... N?o é lindo isso? Está acontecendo...

  O encontro de Bella e Adanu n?o foi fácil, tendo os dois se estranhado perigosamente, como foi o caso, bem mais tarde, de Allenda e Uivo, como está descrito na série “Os danatuás”, do mesmo autor. Mas, felizmente, os dois conseguiram se acertar, dessa uni?o surgindo a bela menina Allenda.

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