Uma Trama
Miguel estava estático com os olhos voltados ao ch?o, sem piscar ou se mexer um centímetro sequer, mesmo que acima dele estivesse acontecendo uma cena estranha e irreal.
Isabella, com suas asas prateadas, recebia um poderoso golpe nas costas de um velho mafioso de barba cinza.
Esse golpe desferido na lombar qual estilha?ou algumas costelas somente com a pulsa??o do ar que o acompanhou, n?o foi cem por cento efetivo, pois com a for?a de vontade em n?o ter sua existência apagada, a garota de cabelos brancos usou o impulso para girar-se e com partículas que formaram uma casca prateada, ricocheteou-se do punho fechado que estava prestes a tocá-la.
O abrupto impulso naquele escudo a jogou longe, fazendo com que caísse a uma distancia considerável, expelindo um líquido cinza de emaranhados com alguns restos que provavelmente eram comida.
— Droga! — O velho agora se via com as roupas manchadas com aquele líquido.
Pairou lentamente até o ch?o e descartou no meio do processo o sobretudo preto manchando.
Isabella estava acabada, seu olho esquerdo estava fechado e o direito, avermelhado, ficou semiaberto.
Arfava sem parar com as pernas trêmulas e com suas for?as deixando seu corpo, se esfor?ando para manter-se s?.
— Quem é esse desgra?ado!? O que ele quer de mim!? Por que tem um anjo aqui!? — Encheu-se de dúvidas e n?o conseguiu manter o foco na figura à sua frente, a qual já n?o enxergava direito e que subitamente apareceu em sua frente.
— Ma- Mas O- Quê!? — De repente sua vis?o se escureceu e de frente aquela sufocante e poderosa energia extravagante apareceu.
— Na- N?o! Eu vou morrer!? Na- n?o! — Isabella caiu em lágrimas, suas for?as se foram e o escudo dourado entre eles se desfez com ela caindo de joelhos em seus pés, nada que fizesse ou tentasse, surtiria efeito, aquele era o fim.
A pesada m?o esquerda daquele anjo que carregava grande poder agarrou o pesco?o dela e a suspendeu.
— A- Argh! E- Eu na- n?o! Me de- desculpe, Me- Mestra — O corpo pesou como se na corda de uma forca estivesse amarrada, suas pequenas e frágeis m?os se debatiam puxando aqueles gigantes dedos com todas as for?as que tinha, mas nem sequer os fazia tremer.
Ele n?o esperou as últimas palavras, mas quando fechou mais a m?o, prestes a esmagar-lhe o pesco?o, foi surpreendido por um nome que saiu de sua boca.
— Mi- Mirabelle.
— Oque!? — Subitamente a for?a que colocava cessou e uma quest?o enorme apareceu — Como sabe esse nome!? — perguntou ao passo que abriu a m?o.
Isabella, se viu livre antes de cair em inconsciência. Seu nariz secretava uma gosma prateada, sua boca estava coberta com um líquido de mesma cor, os bra?os e pele estavam cortados e arranhados pela press?o da energia que a acertou e os olhos se encontravam fechados.
— Responda!? — Em meio ao espanto, suas a??es ficaram deturpadas, mas logo a vis?o bagun?ada se restaurou e percebeu que a garota n?o se encontrava mais consciente.
— Quantos mais infortúnios ainda tem que me acontecer hoje? — Colocou a m?o sobre o rosto e fechou os olhos, apontou a palma da m?o aberta para ela. — Melhor n?o pensar muito nisso, deixarei essa situa??o para depois.
Pequenas partículas douradas saíram e a envolveram, os fluidos que a rodeavam foram se desfazendo entre as partículas e em poucos segundos estava limpa, ele ent?o colocou a bruscamente no ombro direito e virou para Miguel ali ao lado.
Silenciosamente o Anjo braceou o terno negro e tirou com a m?o direita os flocos de neve que caiam e se aproximou do jovem.
Retirou Isabella do ombro e a colocou deitada no ch?o. Virou-se e olhou para Miguel.
Aproximou-se com a m?o e a estendeu sobre a cabe?a dele, soltando os pensamentos que tinha em voz alta — Almas que s?o clementes a Deus n?o podem ser perdidas, naquele momento tu n?o estavas destinado a morrer, o que houve para que viestes parar aqui? E… por que n?o está morto? — Segurou em seu ombro e em baixo tom entoou palavras que n?o se podia traduzir, suspirou e completou com um pesar na voz, pois sentiu algo nele. — Se Deus n?o o quis dar-lhe o devido descanso, significa que ainda há muito o que se fazer neste mundo.
Aonde quer que tenhamos que ir, espero que n?o perca sua fé.
Miguel n?o ouviu nem percebeu nada, seus sentidos estavam bloqueados, nada entrava ou saía de seu corpo além do ar ao respirar, mas sua alma recebeu naquele momento um grande poder e seu corpo algo que usaria futuramente…
Logo após retirar a m?o dos ombros dele, voltou-se para Isabella — Ela é um ser qual a energia está presa e sua essência é parcialmente corrompida, eu deveria a eliminar, porém, tem algumas quest?es que precisam de respostas.
— Agora… — Olhou para a porta. — Estar no Supramundo n?o é algo que um humano pode aguentar, sua alma precisa de essência para sobreviver aqui… — Pausou por um par de segundos e olhou para Isabella novamente. — Uma fonte de essência que aceite coexistir com a energia volátil e em crescimento da alma de um homem incompleto… — Sua aten??o voltou-se a Miguel e depois a ela novamente e pensamentos que teve geraram uma express?o duvidosa.
— Você está pensando o que eu estou pensando?
Uma voz fina apareceu subitamente atrás de seu ouvido, os delicados lábios que chegaram cobertos por um batom vermelho, foram empurrados pela grande m?o do anjo. — N?o tente me importunar! fedelha. — Após a empurrar, deu aten??o ao ser que havia aparecido, uma menina trajada em curtas roupas de couro, um casaco azul-marinho, um curto short jeans de cor igual e uma camiseta com tons vermelhos, composta de alguns tecidos finos e no dedo anelar esquerdo um anel de lat?o, tinha olhos verde esmeralda e pele clara, corpo estreito e magro com duas marias chiquinhas loiras e caninos longos e acentuados.
— Se já n?o bastasse você ter aparecido quando este jovem desapareceu, agora vem até mim com sua lábia, se n?o fosse a forte liga??o que ele tem contigo, eu já a teria eliminado.
— Ei! — A garota que n?o só foi jogada longe, como caiu no ch?o, logo levantou-se. — Eu tenho um nome! Sabiá? — Emburrada, colocou os punhos fechados sobre a cintura.
— é mesmo?
— Olha aqui! — Em uma velocidade estúpida, ela se aproximou, partindo o ar entre eles, t?o forte era que o garoto sentado no ch?o rolou e parou com as pernas para o ar. — Me chame de Emília! E-MI-Lí-A! Seu velho! — Gritou colocando o dedo na cara dele, empurrando o seu nariz.
— Com quem acha que está falando?! — Enfurecido, bastou o grave de sua voz aumentar para o ar pesar, e Emília ser empurrada para longe.
— Ih… Vanderlei, está estressadinho? — ca?oou mostrando-lhe a língua e enquanto flutuava, virou o corpo e come?ou a balan?ar em sua dire??o — Velho fraco! Velho fraco!
— Como ousa ca?oar da minha cara!? Vou cravar o que é respeito em sua alma!
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Uma energia quase transparente que circundava Vanderlei, come?ou a se reunir em seu corpo, uma luz advinda da jun??o de milhares de micropartículas douradas, como se um grande poder estivesse para despertar, seus olhos fecharam por um momento, os curtos cabelos brancos come?aram a subir e as partículas se reuniam numa ascendente curva para o alto, até que ele abriu os olhos e uma pulsa??o come?ou a se propagar pelos cantos, e as partículas se dispersaram empurrando a neve ao seu redor.
— Hoje é o dia de sua segunda mor- — Antes de completar sua extravagante apresenta??o de poder, foi interrompido por uma vis?o inacreditável.
Emília, que n?o deu a mínima para o show espalhafatoso, virou-se e foi em dire??o a Miguel, pegou em suas m?os, virou-se para Vanderlei e em seguida o beijou, voltou-se novamente para o anjo e o mostrou a língua e levantou o dedo do meio.
— Su- Sua ABOMINA??O!!! — A fúria em suas palavras foi t?o grande que toda a neve ao seu redor foi empurrada para longe, o ch?o se partiu e os Marcos de pedra racharam se esfarelando junto a energia dos seres de outro mundo.
Em um salto sua m?o foi no pesco?o do espírito, o levantando.
— Ei! Você sabe muito bem que n?o tem como ele sobreviver ali sem essência! — Gritou Emília, que estava a um fio de desaparecer, sentindo o calor das brasas que emanava dos olhos daquele anjo enfurecido.
— Eu te fiz um favor! — Tossiu e sem conseguir abrir a m?o que a enforcava, escorregou — vocês anjos seguem muitas regras chatas, e ficam pensando se podem ou n?o interferir e no final… acabam n?o fazendo é nada.— Em uma pequena pausa, mesmo sofrendo com a dor de seu pesco?o apertado, desviou o olhar para Miguel que tinha uma camada imperceptível de partículas vermelhas ao seu redor e no meio de seu peito, um desenho de duas espadas gêmeas se formando.
Os olhos do senhor a acompanharam, e a m?o que uma vez a levantou brutalmente, agora a descia com cuidado.
— Mesmo assim n?o acho que deveria ter o colocado um fardo t?o grande, cuidar da própria alma é algo difícil, quanto mais da dos outros. — caminhou até o garoto. — E mesmo que fosse, humanos s?o fracos, a tenta??o os corrói e a sede por realizar seus desejos, mesmo que n?o sejam seus, os corrompe… e você! — Apontou para ela e depois virou-se. — Você n?o é o melhor exemplo de espírito puro para ele!
Caminhou até Isabella. — Eu tenho muito o que fazer, ent?o isso é uma oportunidade para mim.
Emília Tossiu e escarrou. — Oportunidade? — cuspiu e come?ou a massagear a garganta que estava doendo.
Ao se aproximar de Isabella pegou-a em seus bra?os, endireitou-a e quando estendeu a m?o direita, subitamente ela transformou-se em uma esfera de energia que flutuou até sua m?o e quando a fechou, a energia desapareceu.
— Sim, agora que você se comprometeu a dar sua essência a ele, n?o preciso me preocupar tanto, parece que grandes prova??es aguardam ele em um futuro próximo, eu precisaria ir com ele, mas como você se ofereceu, vou poder me ausentar por um tempo, preciso de respostas dos meus superiores.
— Bem, espero que lhe respondam dessa vez, Lorium n?o deveria ter sido apagada? Lembro que a Ordem tinha destruído ela, ninguém além dos antigos Custodis e Arcanjos deveriam citar esse nome, tem os espíritos que viviam lá, mas… sabemos que n?o sobraram muitos. — Falou Emília.
— Sim, além de estarmos em Tusseras, n?o estamos nem mesmo perto de onde Lorium ficava. — Olhou para as montanhas daquele vale onde estavam. — Esse lugar sequer deveria ser habitado… N?o há o que fazer sobre isso, sem os mapas estelares n?o teríamos nem chegado aqui a tempo. é muito estranho isso, ele está t?o longe da terra e Lorium ter sido mencionado por esta coisa. s?o tantas informa??es aparecendo ao mesmo tempo, é como se- — Vanderlei se afastou e caminhou até a porta e p?s a m?o sobre ela.
— Você sabe onde essa conex?o vai dar, né? — Perguntou Emília.
— Se a energia que ela emite for realmente a que aparenta, ela vai para as bordas do universo, onde o abismo está.
— Sabe que em tese nem minha essência o salvaria lá né?
— Sim, Estar no Supramundo e estar vivo é algo inexplicável, eu sinceramente n?o consigo pensar o que pode se suceder com ele.
Por alguns segundos os dois ficaram em silêncio.
— Vandaliel. — Emília chamou o anjo por outro nome, o qual a olhou com estranheza. — n?o precisa temer por nada! Você sabe que depois de tudo, o supramundo só é perigoso para aqueles que a essência está selada, mas como agora ele tem “mua” para o prover essência, tudo vai ficar bem! — falou sorridente e brincalhona apontando para si mesma.
— N?o é isso fedelha, você n?o presta aten??o aos fatos?
— O quê é ent?o? Você poderia estar preocupado com os port?es? Sabe que aqueles port?es foram perdidos junto a maioria das conex?es, além de sempre terem sido estranhos! O único lugar próximo a o abismo é Nura, Iremos ou parar lá! n?o tem erro.
— Você n?o entende o porquê da minha preocupa??o Emíliare! Nura é um lugar sem leis, mas n?o seria nada difícil para ele viver na terra daquelas largatixas. Coloquei no jovem um estigma deles, Desde que n?o se envolva com nenhum daqueles calangos inteligentes, pode até mesmo viver lá sem minha companhia, mas você n?o entende onde eu quero chegar… porque Emíliare!? porque ele está aqui!? Como ele chegou no Supramundo e o porquê de Mirabelle ter sido citada por um espírito após Setecentos anos!!! — Deixou a emo??o transparecer nas últimas palavras, ao colocar a m?o sobre o rosto novamente.
— Por quê? Eu achei algo normal, no mundo normal n?o citam dem?nios, anjos, caídos, espíritos, almas amaldi?oadas e rituais satanicos a todo instante? — Emília respondeu indiferente, enquanto flutuava ao redor dele de ponta a cabe?a.
— Ainda n?o entendeu? O nome n?o é t?o importante! Mirabelle! Mirabelle é importante! Sabe quem é Mirabelle e sabe muito bem o que fez com os port?es nos primórdios, as antigas conex?es e o que a Ordem quer! Tem ideia do que aconteceria se o port?o do abismo tiver sido reconstruído por ela!? Pior! Se respondesse ao desejo dela?
— Hein? Pera… Vo- você acha que ela!?
Demorou a raciocinar, pois tinha muitos anos de memórias em sua mente para separar até achar alguma que fosse de encontro com a preocupa??o do velho, mas ao perceber o porquê de Vandaliel se preocupar tanto, Emíliare entrou em um panico t?o grande que desfez o feiti?o e as brincadeiras e ficou em pé. — n?o pode ser!
— Sim, pode, por isso preciso ter uma audiência com os Custodis atuais, n?o… Na verdade, preciso levar essa “coisa” e perguntar diretamente a um dos Arcanjos…
— Pera! Se você estava cogitando algo t?o perigoso assim, porque está aqui ainda!? Precisávamos mesmo ter feito todo esse teatrinho!? — A pequena espírito de cabelo loiro colocou as m?os na cabe?a e come?ou a andar de um lado para o outro. — Aí! Aí! Aí! Se a Ordem estiver tramando alguma coisa no Abismo ou se aproveitando das conex?es que restaram! N?o pode ser! N?o pode ser!
— Se acalme! Você deve saber como ninguém que eles somente n?o respondem mais ao Conselho das Doze Casas e mais, n?o tem porque pensar que adiantaram o dia do julgamento, n?o depende deles, Jesus é muito paciente e Misericordioso com os humanos e seus erros. Estou preocupado com os movimentos dos Dem?nios em Nura, aquele lugar nunca foi guardado devidamente devido à existência dos drag?es e da proximidade com o abismo, se a Ordem também estiver se movimentando naquela regi?- eu n?o sei. Preciso de respostas.
— Quem liga pra isso!? Mesmo que n?o seja para adiantar, sabe o que pode acontecer se a Ordem voltar justamente quando o número de almas realmente dissidentes é maior que o de inconscientes!? Eles estavam exilados!
— Sim, tenho certa ciência…
— Ent?o o que está fazendo aqui ainda? Sabe quantos meses você vai demorar para chegar em Sansigro!? Você está louco se continuar aqui! — Em um clar?o vermelho, Emília desapareceu e a marca no peito de Miguel emitiu um brilho.
Das pequenas espadas cruzadas uma voz saiu. — Eu vou cuidar dele, n?o tenho boas lembran?as do Abismo, nunca sequer pisei em Nura e se Mirabelle estiver lá eu também n?o sei o que fazer! Mas se o que estiver pensando for verdade… protegê-lo daquelas cobras arrogantes e de alguns espíritos malignos n?o é o maior dos meus problemas.
O anjo ao ver o ato, esticou os bra?os para os lados e várias partículas por toda a regi?o, se juntaram, milhares de pontos dourados voaram até o seu corpo que se expandiu ao alto, até que n?o era mais possível ver sua face, somente o emanar da luz sagrada que o circundava era perceptível, pois o interior daquela luz era desconhecido até mesmo aos olhos dos espíritos.
— Eu nunca vou me acostumar com isso. — Emília ao redor de uma enorme esfera em chamas, um espa?o onde se encontrava a alma de Miguel, via aquela transforma??o exuberante por uma espécie de janela quadrada.
— Obrigado. — A voz que ecoou como um trov?o foi seguida do vento sendo partido e retorcido pela velocidade do movimento do ser de outra realidade deixando aquele local.
— EEEEEEEEIIIIIIII! — Gritou a pequena que, no simples desaparecimento do anjo, foi arremessada com o garoto em dire??o às montanhas.
— Ainda estamos aquiii!
— Na- N?o! — Sua coragem em brincar com um ser t?o poderoso n?o vinha de idiotice aguda, uma luz mais forte emanou da marca, um escudo vermelho se formou, uma bolha que protegeu Miguel.
— Esse velho louco! — Gritou enquanto rodopiavam pelo ch?o após ter amortecido o impacto, rolando até perto da porta — Como ele pode fazer isso!?
O Espírito olhou para a situa??o assustadora à qual tinha se metido — porque eu tenho que ficar me metendo em tantos problemas? — frustrada, ficou quieta com a esfera ainda energizada.
— Ele nem tirou a paralisia dos sentidos! — Grunhiu e sussurrou desfazendo a esfera e se materializando no ch?o e olhando para o garoto pairando no ar.
Agarrou-o antes que caísse e o abra?ou por um par de minutos.
— Eu queria tanto poder ficar assim contigo por mais tempo, lhe ver acordar, lhe abra?ar mais…— O colocou na mesma posi??o em que estava antes, ficou de costa para a porta enquanto ela acariciava seu rosto e arrumava o cabelo. — Lembre-se de nossa promessa. — Enquanto olhava para aqueles olhos de preocupa??o, a energia que emanava entrou no corpo do garoto e ela come?ou a desaparecer, sobrando somente as lágrimas que caíram no rosto de Miguel quando acordou.