home

search

A GUERRA DAHRAR - 324.838

  Eu estou pronto para destruir o passado e lan?ar a base do futuro, bem aqui, bem agora.

  Lázarus sentiu toda a dor que podia sentir, se acumulando perigosamente. Lentamente, podia perceber que cada parte do que acreditava ser verdade, que cada parte da esperan?a que criara, era roída e eliminada.

  A guerra contra os dahrars já durava muitas esta??es, e nada parecia estar melhorando, mas tudo, certamente, estava num crescendo de almas sendo corrompidas e esmagadas.

  - Essa guerra parece que n?o quer terminar – lamentou uma vigilante, sua voz ecoando pelo grande sal?o nas entranhas das montanhas no Vale Fendido. – Quanto tempo já? Dezoito, dezenove primaveras? – sofreu, os olhos passando pelos presentes.

  - Por que diz isso? – questionou um saci.

  - Temos que descobrir o que segura essa guerra contra essas terras, o que faz suas vontades se fixarem assim, dessa forma – falou. – E destruir suas vontades.

  - S?o os dem?nios – alertou um dranian de porte majestoso, o olhar posto ao longe.

  - N?o s?o só eles. Há vigilantes se aproveitando da guerra, bem como pessoas, que desejam trazer os anjos para a guerra, para destruí-los – avisou uma sedenerá.

  - Pois a vigilante está mais que certa. Nós temos que dar um jeito em definitivo nisso – avisou um grande comandante Dranian chamado Carbadael, o justo e impiedoso, elevando a voz na assembleia. – Gaia está em grande sofrimento, e talvez n?o consiga perdurar por mais tempo. A destrui??o está sendo muito intensa e os lamentos das criaturas est?o muito altos. Temos que destruí-los de vez.

  - O que prop?e, Carbadael? – perguntou um anci?o curupira sentado no conselho.

  - A destrui??o de suas bases, come?ando pelas maiores e mais poderosas, eliminando tudo que esteja dentro das muralhas.

  Ante o assombro do que propunha, o Dranian ficou em silêncio, esperando que tudo se acalmasse, o que aconteceu quando o curupira exerceu sua autoridade.

  > Sei que lhes causa temor, temor que caiamos, temor que a escurid?o que vive em nós se alimente disso, mas n?o temos outra op??o. Estamos lutando como anjos, com compaix?o, e eles est?o usando isso contra nós. Os de nós em que deitam as m?os s?o torturados, humilhados, abusados, devorados, e empurrados com violência para a escurid?o – relatou, a voz em um tom mais baixo, como se as vis?es que evocavam lhe trouxessem intensa dor. - N?o nos sobrou outra op??o a n?o ser a de que temos que trabalhar pela destrui??o deles, de todos eles, dos mais velhos aos... aos mais novos – falou, a voz dura num tom tranquilo e distante de um guerreiro. – Lázarus está aqui, e pela velha espada todos sabem que é Sênior em sua essência, e vemos como ele batalha. Temos que segui-lo, temos que lutar como ele.

  - Uma carnificina – sofreu uma flor-do-mato, assustada com o rumo que a assembleia tomava. – é o que prop?e? Sênior é o Sênior, e ele tem a for?a suficiente em si para n?o cair, ainda mais porque ele n?o carrega o karma. Mas, e nós? O que essa carnificina fará conosco?

  - A carnificina já está ocorrendo. Temos que reagir à altura. O que nos sobra?

  - Sempre temos op??o, sempre temos escolhas – ralhou um saci.

  - Pois é isso mesmo que estamos discutindo aqui.

  - De igual modo... – sussurrou uma m?e-da-mata, incrédula. – Reconhe?o e aceito a guerra, quando nela há nobreza e honradez. Na guerra que está propondo n?o vejo isso.

  - Eu entendo isso – interveio um poderoso mapinguari. – Ent?o o que devemos fazer? Deixar que continuem nos matando lentamente? Deixar que continuem se proliferando como gafanhotos e tomem o mundo todo para eles? Eles se matar?o somente quando o mundo que lhes deixarmos n?o existir mais. Somos guerreiros, temos que lutar.

  Lázarus ergueu os ombros, sentindo que havia alguma esperan?a de que as coisas n?o se perdessem. Ariel apertou sua m?o, dando-lhe poder para intervir.

  Safiel e o conselho o sentiram e se voltaram para ele, observando-o com aten??o, como todos os outros.

  Era nítido o desejo até insano de que uma esperan?a os mantivessem apartados da escurid?o.

  - Estou de acordo com isso, com tudo o que foi dito aqui - falou. - Mas, meus irm?os, n?o podemos nos esquecer de como o poder é. O poder n?o pode ser tirado, ele só pode ser dado. N?o s?o eles que determinam o que somos e o que deveremos ser. N?o somos escurid?o, e para lá n?o desejamos nos encaminhar. Somos melhores que isso, somos mais fortes que isso. Sei que me veem como Sênior, e digo que realmente sou assim. Mas, em cada ato que praticamos, somos honrados quando procedemos com nosso cora??o.

  Houve um silêncio geral.

  Carbadael o olhou confuso, tentando entender por que um guerreiro como aquele, que já trucidara inúmeros inimigos, estava sendo contra a sua estratégia.

  - Se tornou t?o fraco assim? – sondou? – Agir com o cora??o? Que loucura é essa?

  Support the creativity of authors by visiting the original site for this novel and more.

  - Se ser forte, de acordo com você, é também trucidar inocentes, ent?o devo come?ar por aqui, porque aqui há muitos inocentes? – perguntou, a voz num tom frio e perigoso. Ent?o suspirou fundo e amaciou a voz. - Ser dahrar, meus amigos, n?o deve ser uma senten?a automática de morte.

  - Já sabemos que você e os seus protegeram inúmeros dahrars...

  - Somente os que foram merecedores...

  - Ent?o você se tornou um juiz?

  - Mais iluminado que vocês, que como juízes levantaram suas espadas e declararam todos como culpados.

  Carbadael ficou em silêncio. Por fim seus ombros suavizaram a tens?o.

  - Também estou cansado da guerra, e do quanto ela nos transforma. Pensou em alguma coisa?

  - Esses dias eu conversei com um grande guerreiro, um caipora de olhos cheios de ardorosa paix?o pela vida – contou Lázarus. - C?oDaLua é o seu nome. Acho que devíamos ouvi-lo, prestar-lhe a devida aten??o.

  Lentamente todos se viraram para o conselho, onde se levantava um grande caipora, os longos cabelos de fogo crepitando suavemente.

  > Que fale, que seja ouvido – falou Lázarus, ficando em silêncio, os olhos postos no ser de fogo.

  O caipora ficou em silêncio, parado à frente de todos, se deixando examinar por algum tempo. Ent?o, com um grande suspiro, mostrou que ia falar.

  - Meus amigos, venho pensando há um longo tempo. Estamos nos perdendo, guerreando contra vários inimigos ao mesmo tempo, quando o único pelo qual essa guerra foi iniciada é apenas um: os dahrars. Alguns anjos, e vigilantes, e pessoas, homens e nefelins est?o usando essa guerra para seus próprios fins. Foram eles que lan?aram os dahrars contra nós, e isso irá continuar e continuar. Ent?o, para mim é simples: penso em um grande isolamento dos dahrars.

  - E eles se deixar?o ser contidos? – duvidou um pequeno mapinguari.

  - Por certo que n?o – sorriu C?oDaLua. – Mas, observem, eles n?o s?o leais a ninguém nem a nada, como nada nem ninguém lhes é fiel, muito menos entre eles mesmos. Eles se alegram quando os outros v?o mal, como os outros se alegram quando eles v?o mal. Isso é uma vantagem, uma bela vantagem. Podemos isolá-los com relativa facilidade.

  - é isso ent?o o que prop?e? – estranhou uma vigilante.

  - Eles est?o como pequenas tribos distribuídas dentro de grandes espa?os vazios. Devemos nos aproveitar de que o grosso deles está mais concentrado na metade continental sul; devemos ocupar esses espa?os e n?o lhes dar mais condi??es de se proliferarem e de se unirem em alian?as, mesmo que frágeis. Estrangulamento, enfraquecimento. Isso derreterá a for?a deles – disse. – No céu, na terra e na água temos que impedi-los.

  - Mas, há os que tentam usá-los, e eles ir?o se por contra nós. Ent?o, n?o é só sobre os dahrars que estamos falando – gritou um anaquera de modos nervosos.

  - Isso é uma verdade – falou o caipora. – Temos que estar preparados, porque todas as for?as ir?o se mostrar, porque será assim que a verdadeira guerra irá ser desembainhada do destino. Ent?o, ao que me parece, isso que você prop?e apenas usará o assunto dahrar para colocar todas as outras pendencias, que p?e em risco Gaia, se mostre. é isso?

  - Que aja uma grande guerra, mas temos que resolver todas as pendências que se colocam contra todos os seres neste mundo – o caipora declarou, sob aprova??o de grande parte da assembleia.

  - é assim que a luz irá se mostrar, e que a escurid?o irá se mostrar também. Ent?o saberemos quem s?o os verdadeiros inimigos, que maquinam sob os nossos olhos ou escondidos de nós, e n?o teremos porque atacar os que na luz também est?o. Assim, todos lutar?o, porque ent?o de honra estará vestida essa guerra – ouviram uma voz soando do alto.

  - Honra – Ariel subiu a voz, vendo aquela a oportunidade de que tanto ansiava. – Mas n?o haverá honra quando matarmos crian?as, n?o haverá honra quando matarmos alguém inocente.

  - E haverá honra quando n?o nos deixarmos sucumbir à loucura, que o medo e o poder soterram os cora??es fracos – Lázarus falou, a postura tranquila e dura, irradiando luz para a assembleia. – Haverá honra quando lutarmos com compaix?o, quando levantamos a espada e sabemos que à frente está um irm?o que tomou um outro caminho, quando descermos a espada desejando que fa?a melhores escolhas da próxima vez, e quando refrearmos a espada, ao vermos que à nossa frente está um ser que sonha com a luz. Disso n?o podemos abrir m?o.

  - Muitos de vocês s?o bons – interveio Mulo, - como muitos de vocês s?o maus e deploráveis. Mas, nem por isso, todos s?o ca?ados e destruídos. Se fizessem assim, seria apenas por medo, por temerem o que n?o conseguem controlar ou prever. Esse é o velho problema nesse mundo, que parece cada vez se tornar mais imperioso: controlar. Que honra há nisso? é para preservar o que é bom, para proteger a luz que estamos aqui, que acreditamos. N?o podemos matar a luz, n?o podemos dizer a ela que iremos servi-la em um momento mais adequado, mas que agora n?o. Ser honrado também é uma decis?o! – declarou com suavidade.

  - Por muito tempo vaguei pensando que n?o havia nada para acreditar nesse mundo, e que eu só deveria ir me defendendo, dia após dia – falou Avenon por sua vez. - Pois, deixei de acreditar nisso, porque eu acredito que somos donos das escolhas que fazemos, de cada uma delas. Há momentos que s?o decisivos, e que podem influenciar o tempo à frente. Vejam, esse é um desses momentos.

  Lázarus n?o pode deixar de sorrir orgulhoso. Terem ouvido aquilo de dois poderosos e temidos dahrars como aqueles tivera o efeito que vinha tentando há muito tempo.

  O conselho se entreolhou, e parecia que um peso e uma culpa imensos demais lhe haviam sido retirados.

  - Obrigado, Mulo; obrigado Avenon. Os ouvimos e vemos honra no que dizem. Assim será!

  A surpresa foi imensa quando ele e sua coorte surgiram.

  Safiel estava envolto em uma aura diferente, em um poder mais determinado, todos puderam ver. Envolto em paz e luz ambarina ele ficou flutuando contra o teto da caverna que agora parecia transparente, na parte mais baixa de um cone de neblina que se revolvia.

  - Do alto vimos a iniquidade dos dahrars e a iniquidade que semearam nos cora??es de todos os outros surgidos como respostas, que se enraizaram a partir do medo. Do alto vimos a iniquidade dos que se dizem defensores da luz, que n?o se apiedam dos inocentes na ponta de sua espada, só por serem aquilo que lhe p?e receios no cora??o. Isto precisa acabar – declarou, descendo ao solo, em frente ao conselho, juntamente com um exército de anjos. – Somente a luz nos cora??es de vocês, que insistem em n?o desistir mesmo na mais completa escurid?o e no mais terrível desespero, é que nos diz que o tempo esperado chegou porque, ent?o, essa é uma guerra pela qual estamos dispostos a lutar.

  Safiel olhou para os dois, Lázarus e Ariel, um sorriso distante no rosto.

  - O que foi, Safiel? – perguntou Ariel, vendo que o silêncio em volta daquela fogueira parecia que iria continuar a se estender por largo espa?o.

  - Vejo a felicidade no rosto dos que aqui est?o, cansados demais desta guerra. Vocês entendem?

  Lázarus confirmou, ao observar Ariel rapidamente.

  - Já vi isso muitas vezes, em muitas guerras – declarou.

  - Eles acreditam que com a entrada de vocês, essa guerra vai terminar, e tudo voltará a ser como antes. Nada voltará a ser como antes e a guerra n?o vai terminar – disse Ariel, o rosto com uma pontinha de tristeza.

  - Na verdade, vai piorar, e muito.

  - As três fases est?o em andamento – falou Safiel, os olhos presos na escurid?o da noite.

Recommended Popular Novels